postado em 21/09/2019 04:15
A Amazônia é a maior floresta tropical do nosso planeta. Abriga 33 milhões de pessoas de nove países, além de uma biodiversidade extraordinária. Sua vegetação densa e seus solos úmidos contêm 140.000 milhões de toneladas de carbono, capazes de incidir negativamente no clima global caso sejam liberadas na atmosfera. Preservar a Amazônia é uma questão de interesse global e deve se tornar uma das grandes prioridades de nosso tempo. Nos últimos 50 anos, perdemos 17% desta floresta vital. Apesar dos esforços para protegê-la, registros apontam um aumento alarmante no desmatamento, cujos efeitos se intensificarão devido à crise climática.
Os incêndios vorazes que estão devastando grandes porções da Floresta Amazônica são evidências de que a expansão agrícola insustentável e a crescente demanda da mineração, juntamente com condições climáticas cada vez mais extremas, estão acelerando a degradação dos ecossistemas.
Isso é verdade na Amazônia e também em outras paisagens vitais, como no Ártico, onde mais de 100 grandes incêndios foram registrados desde junho. Ambos os lugares, embora diferentes e distantes, sofrem os efeitos de um aquecimento global sem precedentes. O último mês de julho pode entrar para a história como o mês mais quente já registrado, e é possível que 2019 se torne um dos cinco anos mais quentes dos últimos séculos.
Nesse contexto, os esforços para salvar a Amazônia precisam abraçar tanto o global quanto o local. A mudança nas políticas nacionais de uso da terra e a luta contra a crise climática devem acelerar. Os países que compartilham o bioma Amazônia devem fortalecer a governança de suas florestas, integrar os setores produtivos e promover atividades econômicas sustentáveis, sem as quais seria impossível preservar os ecossistemas e gerar benefícios socioeconômicos locais.
Todas essas nações têm experiências bem-sucedidas de conservação. Entre 2004 e 2012, seus esforços ajudaram a reduzir o desmatamento na Amazônia em 80%. Há importantes lições aprendidas sobre a eficácia no manejo e governança de áreas protegidas, e devemos continuar avançando, em estreita cooperação com os Estados da região e com as 400 comunidades indígenas do bioma, que podem fornecer grandes contribuições para a construção de soluções inovadoras baseadas na natureza.
Sim, é possível preservar a Amazônia e sua biodiversidade. Precisamos de compromissos e medidas ousadas para aumentar o monitoramento dos ecossistemas, restaurar as áreas degradadas e criar um mercado vibrante para as atividades produtivas sustentáveis, como os produtos amazônicos não madeireiros.
A Cúpula de Ação Climática, convocada pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, para 23 de setembro, em Nova York, e a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP 25), que será sediada pelo Chile entre 2 e 13 de dezembro, são as oportunidades de levar esses compromissos ao mais alto nível. Antes da reunião no Chile, outra relevante instância de decisão ocorrerá na América Latina: a Pré-COP25. O evento será promovido em outubro pela Costa Rica, um país com reconhecida liderança ambiental, e durante o encontro serão realizadas negociações estratégicas sobre o clima.
As discussões sobre o Marco Global da Biodiversidade pós-2020 oferecem outro espaço para repensar os modelos de conservação e uso sustentável de biomas estratégicos, como a Amazônia. Da mesma forma, a nova Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas (2021-2030), que busca incrementar a recuperação de biomas em grande escala, fornece uma plataforma prática para avançar medidas eficazes contra a degradação da Amazônia. Sem a Amazônia e sem as outras florestas tropicais do planeta, não podemos limitar o aquecimento global a 2;C ; muito menos a 1,5;C ;, o que tornará impossível cumprir os compromissos do Acordo de Paris. Não temos tempo a perder.