Opinião

Visão do Correio: Estradas: humanizar é a ordem

Levantamento feito pela CNT mostrara avanços na barbárie das estradas. Em 2018, caiu 22% o número de acidentes e mortes nas rodovias federais. Mas, apesar da queda, as estatísticas continuam assustadora

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 22/09/2019 10:54

Levantamento feito pela CNT mostrara avanços na barbárie das estradas. Em 2018, caiu 22% o número de acidentes e mortes nas rodovias federais. Mas, apesar da queda, as estatísticas continuam assustadoraOs dados do levantamento feito pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostraram avanços na barbárie das estradas. Em 2018, caiu 22% o número de acidentes e mortes nas rodovias federais. Mas, apesar da queda, as estatísticas continuam assustadoras. Elas não autorizam o emprego do verbo melhorar. Para caracterizar o resultado da apuração, é mais adequado recorrer a expressão que frequenta os diálogos descontraídos dos jovens ; menos pior.


Houve 69,2 mil acidentes no período. Nada menos de 5,2 mil resultaram em mortes ; média de 14 vidas perdidas por dia, duas por hora. Vale, aí, chamar a atenção para pormenor que sinaliza a possibilidade de que o quadro seja mais assustador. Desde 2014, as ocorrências sem vítimas devem ser feitas pelo motorista na internet. Muitos não o fazem. Conclui-se que a subnotificação deve ser alta. E o cenário, mais sombrio.


Especialistas afirmam que o Brasil, comparado com países desenvolvidos, apresenta realidade vivida por eles há 30 anos. Está, pois, três décadas atrasado. A fim de deixar para trás a selvageria, não há necessidade de inventar a roda. Caminhos trilhados pelas nações que investiram na civilidade do asfalto podem apontar rumos.


Além da repressão, que fecha as portas para a impunidade e leva o condutor a pensar duas vezes antes de infringir a lei, impõe-se unir esforços na prevenção. Trancar a porta antes de ela ser arrombada apresenta vantagens sociais, psicológicas e econômicas ; poupa vidas, evita traumas, mantém a força do trabalho, evita sobrecarga da Previdência e do sistema de saúde.


As medidas passam, necessariamente, pela educação e pela engenharia de trânsito. Num país carente de trilhos, as rodas respondem pela maior parte do transporte de pessoas e mercadorias. Seja como motorista, seja como passageiro, seja como pedestre, o brasileiro precisa de educação sobre o assunto. A matéria deve fazer parte do currículo escolar.


Excesso de velocidade, uso do cinto de segurança, ingestão de álcool e drogas precisam fazer parte do currículo. Como diz o provérbio, é de pequenino que se torce o pepino. Além de aprender o respeito às regras, ao outro e à vida, filhos têm o poder de mudar o comportamento dos pais. Atentos, eles chamam a atenção para atos contrários aos aprendidos na sala de aula.


A engenharia deve ser convocada. Traçados mais seguros, sinalização eficaz, iluminação correta, asfalto liso são fatores que contribuem para a redução de acidentes. A colisão frontal responde por 60% dos casos. Ela ocorre na ultrapassagem em locais sem visibilidade ou em saída de pistas, em curvas. Há tecnologia capaz de evitar a tragédia.


Humanizar as vias é tendência contemporânea e receita adotada com sucesso. A tese: o ser humano não deve pagar o erro com a vida. O preço é muito alto. Manda o bom senso dar preferência a rodovias que perdoem falhas ou evitem equívocos no trânsito. Estradas assassinas tornaram-se obsoletas. É a vez de estradas tolerantes, acolhedoras e sintonizadas com as competências do século 21.

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