Opinião

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As ruas e os shoppings

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 26/09/2019 04:16
Em qualquer cidade do mundo, uma das grandes atrações, preferidas por nove em cada 10 turistas é poder caminhar com tranquilidade pelas ruas e avenidas, observando as pessoas, as praças, o comércio local e as vitrines das lojas, com suas variedades de produtos e preços. Nesse tipo de esporte, andam-se quilômetros sem perceber. É assim em Nova Iorque, Paris, Londres, e na maioria das grandes cidades, onde as ruas são limpas, iluminadas, seguras e aprazíveis. Sentar em um banco, ver o público se movendo de um lugar para outro, fazer um lanche, tomar um café, repor as energias e seguir desbravando a cidade a pé, conhecendo seus segredos, sua gente.

Não apenas turistas buscam esse prazer, mas os moradores também buscam as ruas para se distrair. A rua é a extensão natural da casa e necessária ao ser humano para interagir, conversar, encontrar amigos e se divertir. Muito mais do que um lazer, as ruas representam um fator de saúde, para muitos que vivem fechados em espaços exíguos e com poucos movimentos.

Em Brasília, essa necessidade foi amplamente pensada e colocada à disposição dos moradores, principalmente no Plano Piloto que, à época da construção da capital, se acreditava ser o espaço principal e único da cidade. Dentro dessa concepção, é que foram projetadas as avenidas W3 Norte e Sul. Com uma extensão de aproximadamente 13 quilômetros, incluindo o trecho em que corta perpendicularmente o Eixo Monumental, essas duas avenidas, outrora o centro nervoso da capital, são reconhecidas pela maioria dos urbanistas como o principal e potencial eixo de comércio da cidade. Com um desenho e uma topografia favoráveis a todo o tipo de atividade comercial e de lazer, elas poderiam compor uma das maiores e mais aprazíveis avenidas do mundo. Mas continuam esquecidas e adormecidas numa espécie de sono profundo.

Com isso, um processo lento e gradual de decadência foi se instalando nessa vital artéria, propagando seus males para as várias ruas adjacentes. Os prejuízos econômicos para a capital, ao longo de todos esses anos de abandono, são incalculáveis e se corrigidos dariam para construir uma outra capital. Inconcebível que, numa moderna vitrine do que de melhor se fez em arquitetura e urbanismo nesse país, uma longa via como essa, esperando oportunidade para acontecer e brilhar, não se tenha um projeto racional e belo que possa lhe restituir a vida.

Enquanto esse dia não chega, os shoppings, que se aproveitaram dessa leniência de seguidos governos, continuam faturando. Do estacionamento aos preços de qualquer produto. o custo pela manutenção desses edifícios gigantes são repassados aos consumidores. Um simples cafezinho, que na rua você encontra por até R$ 4, nos shoppings chegam a custar R$ 10. Essa majoração de preços assustadora vem por conta dos altos alugueis e de outros custos que esse tipo de mercado cria para os lojistas.

Revitalizar as avenidas W3 Sul e Norte, é acabar com esse tipo de monopólio de comércio que gera lucro apenas para os donos do empreendimento. O renascimento das W3 significa a geração de milhares de empregos, aumento na oferta de produtos, concorrência mais intensa e melhores preços para os consumidores, além de uma excelente opção para os turistas e para os habitantes da cidade, que terão a oportunidade de fugirem dos ambientes monótonos, caros e sempre iguais dos shoppings.


A frase que foi pronunciada

;Susana estava mais W3 do que nunca.;
Nicolas Behr, candango construtor de poesias


Dia desses
; Alegre e rodeado por amigos, o general Mourão se deliciava num restaurante especializado em carnes, na Asa Norte.


De olho
; Em 19 de outubro de 1961, esta coluna publicava nota sobre o uso indevido de carros oficiais. Os abusos continuam 57 anos depois.


Cores e perfumes
; Sucesso o FestFlores. Produtores, como o seu Francisco Araújo, puderam trocar cartões com negócios prósperos. O lucro foi satisfatório na mostra. Segundo a Emater, são 139 produtores de flores e plantas ornamentais que recebem capacitação pela instituição. Dados revelam que Brasília, por consumidor, são gastos R$ 44,23 por ano na compra de flores contra R$ 26,27 da média nacional, movimentando cerca de R$ 200 milhões anuais até o consumo final.


História de Brasília


A Cidade Livre está se acabando em matéria de comércio, e aumentando demais em miséria. É um horror, a gente ver aquilo que foi o núcleo pioneiro. As fossas estouradas, jogam
esgotos na rua e a câmara aprova a ;urbanização;.
(Publicado em 30/11/1961)


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