Opinião

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 29/09/2019 04:15

Civilizados com bicho-de-pé


Originário da língua polinésia, o termo tabu, significando alguma coisa sagrada, perigosa, proibida ou pouco limpa, ganhou no idioma português, além do sentido próprio, certa noção de discriminação imposta pela sociedade a tudo que possa ir contra a religião, a orientação sexual, o estilo de vida comumente aceito, entre outras manifestações discriminatórias ao diferente, ao revolucionário.

O maior inimigo do tabu é justamente a ação transformadora do tempo que age sobre cada nova geração, modificando continuamente a percepção de realidade. No Brasil, o ato de quebrar certos tabus diz muito sobre nossas origens e nosso processo civilizatório.

O colonialismo, com suas características inerentes ao escravismo, ao patriarcalismo, às crenças religiosas, não só europeias, como indígenas e africanas, moldou nosso jeito de ser, miscigenando não só as três raças de três continentes, mas nosso íntimo, nossas crendices e tabus. Somos o que somos, selvagens e arredios inseridos no século 21. Jesus, Maria, José, Ogum, Oxossi, Oxumaré, mesclam-se a Tupã, Anhangá, Sumé, gerando o que somos: civilizados com bicho-de-pé.

A mudança, que se acredita radical, entre governos de tendências ideológicas antagônicas fez com que muitos tabus, que se imaginava estarem no fundo do mar, viessem à tona, trazidos à luz pela necessidade premente de serem pelo menos repensados nesse momento.

Um desses tabus que urge seja quebrado, pelo bem de milhares de brasileiros, é justamente o que regula o uso medicinal de medicamentos à base de canabidiol, não só para os que sofrem com a epilepsia, mas quem tem esclerose múltipla, doença de Parkinson, esquizofrenia, aids, efeitos colaterais provocados pela quimioterapia do câncer, vários tipos de depressão severa, ansiedade, doenças degenerativas e vária outras.

A senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), que tem tetraplegia, é uma das defensoras do uso medicinal do CBD . Em sua luta para que se estabeleça uma legislação regulamentando essa questão, a senadora lembrou que mais de 40 países institucionalizaram o uso do medicamento, como é o caso de boa parte dos Estados Unidos, vários países da Europa e até Isarael.

No Brasil, os pacientes que buscam essa terapia são obrigados a pedir autorização judicial e importar esse tipo de medicamento a custos elevadíssimos, depois de vencer um trâmite surreal de burocracia. É preciso, segundo ela e outros parlamentares que defendem um projeto de lei específico sobre o assunto, que sejam autorizadas e incentivadas as pesquisas e a produção desses remédios em todo o país, não só para barateá-los, mas também para torná-los acessíveis a todos os brasileiros que dele necessitam.

;Se a saúde das pessoas não emociona os parlamentares, então vamos falar de economia. Na Colômbia, foram criados 1,7 mil empregos. [...] O mercado legal de cannabis é um dos segmentos da economia global que mais cresce. A taxa é de 22% ao ano. No Brasil, a estimativa de crescimento é de R$ 1,1 bilhão. Isso reverteu o desemprego na Flórida. E o desemprego é uma das maiores doenças do Brasil; , afirma a parlamentar, mostrando pesquisa de opinião pública que constatou que três entre quatro brasileiros apoiam o uso desse medicamento. Mesmo na contramão da aprovação de uma lei tratando desse assunto, pesquisa sobre a importação desse medicamento mostra que seu uso para fins medicinais vem crescendo em ritmo acelerado. Em apenas um ano (2015), mais de 78 mil unidades de produto foram importados para uso terapêutico. O Senado aprovou na Comissão de Direitos Humanos a sugestão legislativa para uso medicinal do CBD. O autor do relatório foi o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

  • A frase que foi pronunciada
    Se a gente aprovar um projeto permitindo só o canabidiol,
    o medicamento que, inclusive, eu tomo vai ser proibido.
    Isso vai fazer com que eu perca a minha força laboral.
    E, poxa, alguém aqui já me viu alucinando em algum canto
    do Congresso? Alguém aqui já me viu falando besteira?
    Alguém aqui tem algum senão quanto à minha dedicação,
    à minha seriedade no meu trabalho?

    Senadora Mara Gabrilli


Na verdade

; Carregados de dados e emoção os depoimentos dos coordenadores do Centro de Valorização da Vida na Câmara e no Senado. O caso é que quem conhece potenciais suicidas não tem à mão um serviço de emergência ou quem não pode pagar por remédios caros ou profissionais competentes fica mesmo à deriva. Acesso à Prevenção ao suicídio é restrito.


Prática

; Uma música inicia o atendimento no número telefônico 188. ;Sua chamada é a....40.; Difícil acreditar que o CVV funcione desse jeito. Além disso são voluntários. Eles recebem algum tipo de capacitação? Algumas pessoas que já foram atendidas acreditam que não. Muito ruim o serviço.


Passagens subterrâneas


; Hora da faxina nas passagens subterrâneas. Cheiro de urina e algumas com fezes mostram a falta de manutenção. Quem quer se proteger do trânsito usando esses corredores é obrigado a suportar esse descaso.

  • História de Brasília
    O dr. Laranja, de quem falavam mal, que não conhecia a cidade, e não sei mais o que está se revelando na Novacap. Reuniu o que havia de melhor para a diretoria, e está indo muito bem. (Publicado em 30/11/1961)

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação