Adriana Izel
postado em 01/10/2019 09:00
Na semana passada, Milton Nascimento foi alvo de uma polêmica ao dizer, em uma entrevista à coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, que ;a música brasileira está uma merda;. Ele dividiu opiniões e, após críticas, usou as redes sociais para justificar que se referia apenas ao mainstream, ou seja, aos artistas de maior sucesso hoje no Brasil. Atualmente, sertanejo, funk e pagode dominam as paradas. Bituca se referia aos representantes desses estilos: ;Só sabem falar de bebida e a namorada que traiu. Ou do namorado que traiu. Sempre traição;. A cantora e compositora Marília Mendonça é autora dos principais hits que falam, em sua maioria, de traição e amores mal resolvidos. Ela é um exemplo de que nem todo mundo está aí fazendo ;merda; no mainstream, e que é muito difícil fazer generalizações. Em 2018, teve uma música no CD de Gal Costa, Cuidando de longe. Além de compor, Marília dividiu os vocais com a diva.
A sertaneja não é a única que se aproximou dos medalhões da MPB. O funkeiro Rafael Mike (Dream Team do Passinho) foi convidado por Chico Buarque para gravar a faixa As caravanas (2017) e, este ano, escreveu e gravou com Elza Soares Não tá mais de graça. Mais um exemplo de que o mainstream, nesse caso, o funk, pode ser, sim, de qualidade.
O outro problema da fala de Milton é que ela excluiu um fenômeno atual da música: o midstream. A nomenclatura tem sido usada para falar de artistas que fazem o maior sucesso nas plataformas digitais e têm lotado festivais pelo Brasil, como Coala (SP), Bananada (GO) e CoMA (DF). A diferença para o mainstream é que eles escolhem essa independência.
Nessa cena, temos nomes talentosos, como o compositor Tim Bernardes, da banda O Terno, que gravou recentemente com Gal Costa (Realmente lindo) e Lulu Santos (Lava); a baiana Xênia França, um dos destaques do Rock in Rio ao roubar a cena no show de Seal, na sexta última, no Palco Sunset, artista que bebe da fonte das religiões de matrizes africanas; a pernambucana Duda Beat, um fenômeno que mostra, em cada música, como a sofrência e o brega têm sua aproximação na MPB; e o rapper Baco Exu do Blues, artista que superou Beyoncé, no Grand Prix do Cannes Lions, com o ótimo Bluesman, um disco sobre as mazelas de jeito pop.
O que não faltam são nomes dentro desse midstream que estão aí para serem ouvidos e para derrubar essa máxima de que só tem ;merda; na música brasileira. O que falta é mudar o olhar. Esse olhar, por vezes, preconceituoso ao mainstream, ou aquele que não quer ver esse enorme movimento do midstream. Mude o seu também. E aumente o som, você vai gostar de ouvir!