Opinião

Artigo: Frágeis democracias

''A dissolução do Congresso pelo presidente peruano, Martín Vizcarra, e a nomeação de um novo chefe de Estado por parte dos parlamentares, é um lembrete da fragilidade das democracias da América do Sul''

Rodrigo Craveiro
postado em 02/10/2019 12:23
Mercedes Aráoz é vice-presidente do Peru e quer assumir o poderA dissolução do Congresso pelo presidente peruano, Martín Vizcarra, e a nomeação de um novo chefe de Estado por parte dos parlamentares, é um lembrete da fragilidade das democracias da América do Sul. Até ontem, o Peru era governado por dois presidentes, o próprio Vizcarra ; suspenso por ;incapacidade moral; ; e sua vice, Mercedes Aráoz. Existe a probabilidade de que o Congresso da República do Peru vote pela destituição de Vizcarra nas próximas 48 horas. Uma das mais graves crises políticas dos últimos anos lança as instituições do Peru no limbo. A ordem de dissolver o parlamento foi publicada no Diário Oficial, e tanto Vizcarra quanto Aráoz não parecem propensos a abrir mão do poder. A população saiu às ruas, em massa, em apoio a Vizcarra.

A América do Sul tem um histórico importante de golpes. Chile, Brasil, Equador, Argentina, Paraguai e Uruguai registraram importantes rupturas com o Estado de direito. Em boa parte dos países, a democracia é bastante jovem. Portanto, imatura e suscetível a percalços. Qualquer aceno antidemocrático ou qualquer afago ao militarismo pode colocar em xeque a ordem e as instituições. Ações arbitrárias e autoritárias ou uma simples retórica são suficientes para abalar a estrutura democrática de uma nação. O Brasil precisa aprender com os vizinhos e com o próprio passado. Democracia pressupõe a participação popular, uma imprensa sólida, a inexistência de censura e a liberdade de associação e de expressão. Democracia pressupõe interpretar as sombras do passado e não criar brechas que povoem o presente.

A instabilidade no Peru, no Brasil ou em qualquer outra nação da América do Sul é prejudicial a toda uma região e pode contaminar outros Estados. Os cidadãos têm de exercer o papel de fiscalizadores dos mandatários, denunciando e coibindo excessos. Os jornalistas têm o dever de expor a corrupção e apontar ideologias deturpadas, sem se deixarem inibir por ameaças ou por discursos enviesados. Olhos sempre abertos na defesa das frágeis democracias latino-americanas. Sem nos esquecermos de Salvador Allende, de João Goulart e de outros governantes apeados do poder para dar lugar a facínoras descomprometidos com a população.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação