Opinião

Visão do Correio

postado em 04/10/2019 04:13


Sofrimento dos idosos


A sociedade tem o dever de proteger seus idosos e, de tempos em tempos, tem-se notícia de que pessoas da chamada melhor idade sofrem maus-tratos e nada podem fazer para se defender. Geralmente, as agressões acontecem em asilos, que, algumas vezes, são verdadeiras casas do terror. Recentemente, um desses macabros locais foi descoberto em Santa Luzia, cidade na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde a tortura contra os internos era comum, o que provocou, diretamente, ou apressou a morte de pelo menos 18 idosos, impotentes diante de tamanha covardia. Os responsáveis foram denunciados e presos pela polícia, mas as feridas continuam abertas nas vítimas e em seus familiares.

Causa revolta os abusos cometidos pelos proprietários e funcionários da instituição, que tinha por dever acolher e cuidar de seus internos. No asilo da cidade mineira, durante os seus cinco anos de funcionamento, pelo menos 76 idosos sofreram todo tipo de agressão, e seus algozes vão responder por crimes de tortura seguida de morte a estupro de vulnerável ; um senhor de 70 anos era obrigado a praticar atos libidinosos com a dona do estabelecimento.

Os internos relatam que tinham como castigo a privação de alimentação e água por até três dias, banhos frios com balde de água e até afogamento na piscina. Um homem chegou a ser hospitalizado com infecção parasitária causada por larvas de moscas que se instalaram sob a pele, popularmente conhecida como bicheira. Um dos internos contou que uma cadeira foi quebrada em um dos seus colegas como punição.

São relatos que chocaram o país, que desde 2003 conta com o Estatuto do Idoso justamente para proteger as pessoas da melhor idade. O documento, fruto de muitas discussões, prevê direitos para os idosos nas áreas da assistência social, previdência e habitação. Também determina a fiscalização das entidades governamentais e não governamentais de atendimento às pessoas da terceira idade, que deve ser efetuada pelos conselhos do idoso.

A realidade, no entanto, mostra que os conselhos não têm capacidade de fiscalizar o grande número de locais voltados para acolher os mais velhos. E o pior é que a população brasileira está envelhecendo, e a demanda por esse tipo de assistência também vem aumentando. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente existem no Brasil 28 milhões de pessoas acima de 60 anos (nessa idade e acima, o indivíduo é caracterizado como idoso pela Organização Mundial da Saúde). A projeção é de que esse percentual deva dobrar nas próximas décadas.

As autoridades e os conselhos de idosos têm de redobrar sua atenção para que episódios como o ocorrido em Minas não se repitam país afora. Em sociedades milenares como a japonesa, os da melhor idade são reverenciados por sua experiência e sabedoria. Que aqui, ao sul do Equador, os mais velhos também sejam respeitados e não sofram nas mãos de criminosos.




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