Opinião

ARTIGO

Roberto fonseca robertofonseca.df@dabr.com.br

postado em 04/10/2019 04:13



Oito ações por dia

O mercado da aviação civil passa por uma mudança. A entrada de mais duas empresas low-cost ; como são chamadas as companhias de baixo custo que incluem apenas a passagem na tarifa, mas cobram por outros serviços como refeições e despacho de bagagens ; promete acirrar a concorrência num setor que anda em xeque. Há uma sensação na sociedade que as tarifas estão cada vez mais altas ; existem trechos que subiram mais de 35% em média nos últimos 12 meses.

Nos últimos dias, a chilena Jet Smart e a argentina FlyBondi iniciaram a venda de passagens em voos regulares para o Brasil. Ao lado da chilena Sky e da europeia Norwegian Air, são as quatro empresas low-cost em atuação no país. Oferecem voos internacionais e, por enquanto, não há previsão de atuação em rotas domésticas. O segredo, segundo os executivos das companhias, é ser eficiente, a palavra-chave para o modelo de baixo custo. Vai dar certo? Prestarão um serviço de qualidade? Só o tempo poderá dizer.

Enquanto isso, chovem reclamações de consumidores com as empresas ;nacionais; ; o capital estrangeiro é cada vez mais presente nas companhias em operação no Brasil. Na semana passada, por exemplo, a americana Delta, dona de 9,4% da Gol, anunciou a compra de 20% do grupo Latam. Nos últimos cinco anos, desde julho de 2014, somente o Tribunal de Justiça do Distrito Federal recebeu 11.487 processos contra aéreas e seus programas de milhagens. As principais reclamações são atrasos e cancelamentos de voos; extravio de bagagens; cobranças por reserva de assentos; e falha no atendimento. Considerando apenas os dias úteis, dá uma média de oito ações por dia contra o setor aéreo só no DF. Imagina em todo o Brasil?

Ao mesmo tempo, há um pedido feito pela Procuradoria Federal Especializada para que a Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) abra inquérito para apurar aumento de passagens por Azul, Latam e Gol nos últimos dois anos. Em sabatina no Senado, na última terça-feira, o procurador-geral do Cade, Walter de Agra Júnior, classificou que o mercado aéreo está diante de uma calamidade: ;É, sim, caso de atuação energética direta do Cade, por isso fiz uma representação sobre o preço das passagens.;

O preço das passagens é apenas a ponta mais visível do problema no serviço aéreo. Com a quebra da Avianca, o mercado ficou ainda mais concentrado. E a expectativa é de que as low-cost possam contribuir para a redução das tarifas e aumento da eficiência do setor. Para facilitar a entrada das empresas de baixo custo, o presidente Jair Bolsonaro vetou, em junho, a volta da gratuidade do despacho das bagagens. Se não ocorrer a redução das passagens, terá valido a pena?



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