Além do desmonte da Lava-Jato, o STF costuma tomar decisões surreais aos olhos do mundo civilizado, como no caso do fazendeiro que deu cinco tiros em um jovem, por ciúmes, no meio de evento agropecuário. É óbvio que não se trata de um tipo de crime a ser julgado por uma suprema corte. Mas, no Brasil, espantosamente, o processo acabou no STF e, em 2009, pasmem: resultou no fim da prisão em segunda instância! Parece a história do cachorro rico do Auto da Compadecida ; ;Que alma tão nobre!” ;, mas, infelizmente, é mais um triste capítulo a nos envergonhar em escala planetária.
No Brasil de hoje, almas nobres são suspeitas de um golpe de mais de R$ 40 bilhões apenas na Petrobras. Mas se sabe que o esquema criminoso não parou por aí. Avançou pelo BNDES, pela merenda das crianças e devastou impiedosamente os cofres públicos onde quer que houvesse dinheiro a ser roubado. As consequências da pilhagem são conhecidas. Empurraram o país para uma crise ética sem precedentes e para a maior recessão da história, com milhares de empresas quebradas e milhões de desempregados, essa desgraceira em que estamos afundados até hoje.
No auge do escândalo, que estarreceu o Brasil e o mundo, o então ministro Teori Zavascki, do STF, expôs o absurdo da impunidade no país e conseguiu levar os colegas a aprovarem a prisão em segunda instância. Funciona assim em, praticamente, todas as democracias. Algumas são mais impiedosas com o crime. Nos EUA, na França e no Reino Unido, o xilindró costuma ocorrer já na primeira instância, como no emblemático caso de Bernard Madoff, que deu golpe bilionário em investidores americanos, fez acordo com a Justiça e pegou ;apenas; 150 anos de cana.
Madoff pode ter o bom comportamento que tiver na cadeia e ler a biblioteca inteira do Congresso, em Washington ; a que mais tem publicações no mundo ;, que não terá a pena reduzida nem haverá movimento Madoff Livre, pedindo a libertação do ex-bilionário. Se fosse no Brasil... Bem, ele poderia ter virado ;guerreiro do povo brasileiro;, com advogados fazendo biquinho ao falar francês, e meritíssimos extasiados com tanta sapiência. ;Que almas tão nobres!”