postado em 11/10/2019 04:15
Foi muito aplaudida a conferência de Maurício Dinepi no Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Falando sobre A imprensa ontem, hoje e amanhã, abordou a história dos muitos veículos que nasceram e alguns que morreram por força de uma competição devastadora, como aconteceu com o Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, abatido pela disputa com O Globo. Dinepi abordou também o que aconteceu com as emissoras de rádio. Diziam que seriam extintas quando surgiu a televisão, mas não foi o que aconteceu. Elas mudaram de estilo, para sobreviver. Não sucumbiram à antropofagia eletrônica. E houve uma incrível dança nos primeiros lugares do ranking, de onde a Rádio Globo foi desalojada. Hoje, o primeiro lugar nacional pertence à Rádio Melodia, Rio de Janeiro, ficando logo em segundo a Rádio Tupi, do Condomínio Associado.
Bons autores abordaram a nossa saga jornalística, como foi o caso de Hélio Viana, Nelson Werneck Sodré e Cícero Sandroni. Este escreveu sobre a longa vida do Jornal do Comércio, onde trabalharam figuras da nossa história, como Ruy Barbosa, Austregésilo de Athayde, Elmano Cardim e San Thiago Dantas. Tive o privilégio de manter um artigo semanal no JC por mais de 30 anos. Maurício Dinepi terminou a sua aplaudida conferência levantando a questão do futuro das mídias. Não acredita na extinção de nenhuma delas, mas na sua adaptação tecnológica aos novos tempos.
O outro assunto refere-se ao pensador Simon Schvartzman, que, ao falar na Academia Brasileira de Letras, abordou as questões ligadas ao ensino médio brasileiro. Segundo ele, ;a qualidade da nossa educação é bastante precária;. O primeiro dilema é como manter um padrão de excelência, numa rede visivelmente desigual. O sistema de cotas não é o maior dos nossos problemas. Outro dilema que temos de enfrentar é a questão do currículo único. Não se deve (nem se pode) ensinar tudo a todos. Temos um sistema antiquado, ainda baseado na obsoleta Reforma Capanema. Mais adiante, Simon Schvartzman fez mais críticas. Segundo ele, ensina-se matemática de forma equivocada: ;É preciso ensinar a resolver problemas;.
Hoje, temos criado complicações em demasia para os chamados cursos técnicos. Os países europeus resolveram isso muito bem com os seus cursos pós-secundários. No início da década de 1970, um grupo de educadores, de que fazíamos parte ao lado de Carlos Alberto Serpa, demonstrava uma grande preocupação com o destino dos jovens que frequentavam o nosso ensino médio. Só a formação, nesse nível, na realidade brasileira, não era suficiente para criar oportunidades de emprego. Foi então que surgiu a formação de técnicos especializados, o equivalente ao que no exterior era chamado de cursos pós-secundários. Vimos essa experiência vitoriosa no Estado de Israel, quando visitamos a Escola Aron Singalovsky, pertencente ao conjunto do Instituto ORT. Eram 5 mil alunos, dos quais 2/3 aproveitavam essa chance em nível pós-médio, com atividades relevantes para a economia israelense, e com bons empregos.
Graças a um parecer do então conselheiro Carlos Alberto Serpa, no Conselho Estadual de Educação, a iniciativa foi adotada em nosso sistema. A consequência prática disso tudo foi a formação da primeira turma de técnicos especializados em estruturas navais, no curso oferecido a 25 alunos da terceira série do ensino médio no Colégio Estadual Henrique Lage. Depois, os alunos foram deslocados para os estaleiros Verolme, em Angra dos Reis, para um estágio prático de 10 meses. Ao final, 24 deles foram contratados pela firma holandesa, com bons salários, mudando a vida desses jovens, com a perspectiva concreta de emprego. A experiência se repetiu, na mesma escola, em administração de empresas.
Infelizmente, como é de nossa tradição, a notável experiência sofreu solução de continuidade. A Secretaria Estadual de Educação interrompeu a iniciativa, apesar do seu futuro promissor. São fatos assim que devemos registrar, para lamentar a ocorrência, que poderia ter mudado inteiramente o panorama do nosso ensino médio.