Claudia Dianni
postado em 12/10/2019 04:13
Não bastasse o número recorde de focos de incêndio na Amazônia, o Brasil convive agora com um misterioso rastro de óleo que se estende por cerca de 2,4 mil quilômetros de costa e atravessa mais de 130 praias em nove estados, transformando o cênico litoral nordestino em uma paisagem dantesca. O estrago também atingiu a foz do icônico Rio São Francisco, além de 13 áreas de conservação.Os prejuízos afetam a saúde humana, flora e fauna marítimas. A mancha atinge pontos do projeto Tamar, na Bahia e em Sergipe, em plena época de desova. Sem falar nas, por enquanto ,incalculáveis, perdas econômicas já que o turismo é uma das principais atividades de geração de renda no Nordeste, além da importância da pesca comercial e de subsistência.
O Brasil aumenta a macabra coleção de desastres ambientais. Antes de fazer o mínimo de justiça e de punir os responsáveis pelo rompimento da barragem em Mariana, em 2015, vimos a lama da mineração cobrir a cidade de Brumadinho, em janeiro deste ano. A sociedade ainda não sabe o que os governos pretendem fazer para evitar novos rompimentos, mas sabe que o presidente Jair Bolsonaro está empenhado em levar a mineração para terras indígenas. Sim, é inacreditável.
Também ainda não sabemos como o Ministério do Meio Ambiente pretende evitar novos incêndios na Amazônia e se o fogo foi mesmo criminoso, como se suspeita. Sobre as manchas, por enquanto, as autoridades têm mais perguntas do que respostas. Sabe-se apenas que o óleo tem as características do petróleo produzido na Venezuela e que 1.100 barcos passaram pelo trajeto desde o aparecimento das manchas.
Mês passado, drones atingiram a maior instalação de petróleo do mundo, na Arábia Saudita. Na quinta-feira, uma explosão incendiou um petroleiro e o governo iraniano atribuiu o ato a um ataque terrorista. O Brasil está em temporada de leilões para exploração de petróleo e gás, inclusive da área do pré-sal, que pode guardar até 15 bilhões de barris de petróleo. Tudo isso em tempos de questionamento do uso dos combustíveis fósseis, devido ao estrago no clima. Estudos apontam que, até 2030, outras fontes de energia devem substituí-los.
Cenário complicado, emaranhado, com fortes interesses econômicos em jogo, que inclui possível manipulação de preços internacionais do petróleo. Não dá para descartar nenhuma linha de investigação. Sem falar que vai ser preciso muita ciência vinda, como já vimos nos últimos dias, das universidades. A ver se o governo Bolsonaro se convence da importância de investimentos em ciência e tecnologia e do bom relacionamento com a comunidade internacional. Em momentos como esse, é hora da ciência se unir ao poder de polícia e à cooperação. Alô, Trump! Teu amigo telefonou?