Taís Braga
postado em 22/10/2019 10:36
[FOTO1]Nos últimos dias, a impressão que nós temos, ao ler páginas de jornais, sites, mensagens compartilhadas, reportagens de rádio e TV, é que o número de mulheres assassinadas vem crescendo sem perspectiva de cair, apesar da Lei do Feminicídio, que tornou mais rigorosa a pena para quem mata a mulher pela sua condição de gênero ou com quem mantinha laços afetivos (familiar ou amoroso). A pergunta é sempre a mesma: por que esses homens não respeitam essa lei?Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, referentes ao período 2017/2018, mostram que a cada oito horas uma mulher é assassinada no Brasil e o crime, caracterizado como feminicídio. Basta você dormir e, ao acordar, oito mulheres morreram. Em muitos desses casos, a vítima havia registrado queixa ou estava separada. O mais surpreendente, no entanto, é que 65,6% dos crimes são cometidos dentro de casa por parceiros ou companheiros (88,8%). Homens que partilhavam a vida com elas.
Pergunto mais uma vez: por que esses homens não respeitam a lei? Ora, se não respeitam a vida da companheira, a mãe dos filhos, por que respeitariam uma lei que é severa apenas no papel? Quantos anos um feminicida permanece na cadeia, se condenado? Se recebeu a condenação mínima, 12 anos, após dois quintos de cumprimento (para réu primário) terá progressão da pena. Ou seja, pouco mais de quatro anos após a prisão, poderá voltar às ruas. É quase como esperar a próxima Copa do Mundo ou as eleições. Passa rápido.
Ao matar a mulher, o homem mata não só um ser humano. Ele mata a mãe, a filha, a amiga querida, a tia, a família. São diferentes formas de dor provocadas por um único ato. Entidades de defesa das mulheres se desdobram em ações de conscientização, em cobranças aos governos por mais segurança, mais empatia no atendimento às mulheres vítimas de violências e na criação de formas de proteção delas. Como se vê, não tem sido suficiente. Ao consultar os relógios da violência (relogiosdaviolencia.com.br) do Instituto Maria da Penha, é possível verificar a velocidade com que mulheres são atacadas a cada segundo. De várias maneiras. É uma cronometragem da crueldade sem freio.
Precisamos parar essa contagem dolorosa. Em vez de mulheres inseguras, ameaçadas, com medo do que pode vir a acontecer no minuto seguinte, precisamos fazer esses homens entenderem que, ao porem fim à vida da mulher, será o início do fim da liberdade para ele. O perdão da Justiça deve ser dado no cumprimento total da pena. Sem meio perdão, sem a chance de repetir o crime nas saidinhas, nas datas comemorativas. Parece muito duro? Pergunte a quem tem a certeza de jamais rever aquela mulher querida.
Homens que matam mulheres precisam aprender o que é respeito pela vida, pelo ser humano, pelas mulheres, pelos homens, pela sociedade, pelo ambiente em que vivem. E, principalmente, precisam respeitar a lei e temer a mão pesada da Justiça, que deve fazê-los pagar com parte da própria vida por todas as vidas que destruíram.