Opinião

Não daremos trégua

Por enquanto, precisamos dormir e acordar com esse barulho. Só este ano, foram 27 mulheres assassinadas no DF

Ana Dubeux
postado em 27/10/2019 04:16
[FOTO1]O combate ao feminicídio é uma guerra sem trégua. Vai durar muito mais do que nós gostaríamos. Dia a dia, uma nova trincheira a vencer. Para mim, o jornalismo é uma arma de alto poder de fogo para atingir o centro do alvo. Vocês concordam? Acredito que a maioria assina embaixo. Então, aqueles que acham exagero martelar nesse tema, que julgam como ;notícia ruim;, precisam se acostumar. Por aqui, falaremos, gritaremos, publicaremos séries e insistiremos no tema até que a violência contra a mulher seja coisa do passado. E isso vai demorar.

Por enquanto, precisamos dormir e acordar com esse barulho. Só este ano, foram 27 mulheres assassinadas no DF. Não há motivos a listar, nem uma série de condutas a julgar. Há apenas uma única razão para que esse crime se perpetue: o machismo. É preciso tratá-lo como epidemia, doença crônica que atinge a sociedade. É preciso orientar crianças, meninos e meninas, e educá-las sobre igualdade de gêneros, sobre direitos fundamentais, como a liberdade de ir e vir; respeito ao corpo alheio, cultivo às diferenças tão essenciais num mundo livre e democrático.

A cada morte, devemos pensar na dor das famílias, nos filhos órfãos, nas cadeias mais cheias, nas trabalhadoras que deixarão de contribuir como parte da população economicamente ativa. Há dimensões diferentes nesse crime, mesmo que a maior delas seja o impacto doloroso para um núcleo familiar. Todos perdemos cada vez que uma mulher tem sua vida abreviada nas mãos de um covarde.

A vítima mais recente é a vendedora Noélia. A causa da morte ainda está sendo investigada, mas há um suspeito preso. Deixou marido e três filhos órfãos. Manifestações marcaram este fim de semana. De amanhã até 31 de outubro, a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, em conjunto com a Fundação Brasileira de Teatro, promove o evento Conexão Femme. O espaço vai receber especialistas que abordarão temas femininos contemporâneos, além de refletir sobre a Lei Maria da Penha. O evento gratuito será na sala 306 da faculdade. O objetivo do projeto é mostrar que a violência precisa ser vista como forma de violação que causa dor física ou emocional.

Romper o ciclo de violência que enreda a mulher ainda está na seara do sonho. Os avanços são lentos, mas existem. Falar sobre isso, debater, levar a público essa causa é mais do que uma escolha, em especial para os veículos de comunicação. É uma obrigação, uma função social e humanitária do jornalismo, uma causa que deve ser abraçada e disseminada. Enquanto uma mulher precisar gritar por socorro, precisamos gritar ainda mais alto. À sociedade, pedimos que escute, oriente, eduque, apoie, mobilize, solte o verbo. Vamos juntos?

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação