Opinião

Artigo: Perigo sobre duas rodas

Num cenário econômico de crise, as motos se tornam opção de transporte e fonte de renda para uma parcela da população

Adriana Bernardes
postado em 31/10/2019 09:00
[FOTO1]No trânsito, os motociclistas são vítimas mais vulneráveis do que os condutores dos demais veículos motorizados. A afirmação é óbvia, mas certas obviedades precisam ser repetidas à exaustão e esta é uma delas. Saindo do senso comum e partindo para análise de números, tem-se uma ideia do tamanho do desafio que os gestores do trânsito têm a responsabilidade de encarar e vencer. Vejamos.

De janeiro a junho deste ano, morreram 174 pessoas em acidentes de trânsito no Distrito Federal. Desse total, 64 ; ou 36,7% ; em acidentes envolvendo motos. Sabe quantas dessas 64 pessoas eram motociclistas? Nada menos que 44, ou 69% do total de vítimas de acidentes com moto na capital. As demais eram pedestres, ciclistas ou passageiros de outros veículos.

Os números estão no boletim produzido pelo Departamento de Trânsito do Distrito Federal. O levantamento revela ainda que, dos 44 motociclistas mortos, 23% não eram habilitados para pilotar uma moto. Pouco mais de um terço dos acidentes fatais com essa categoria ocorreru entre 6h e 11h59. Segunda, quarta e quinta-feira são os dias da semana com mais registros de fatalidades.

Essas são informações preciosas para que o governo desenvolva políticas públicas capazes de evitar essas mortes. Num cenário econômico de crise e desemprego, as motos se tornam opção de transporte e fonte de renda para uma parcela da população, especialmente para quem vive em áreas mais afastadas do Plano Piloto, onde está a maior parte dos postos de trabalho. As razões são simples: é mais barato comprar moto e o gasto com combustível menor se comparado ao de automóveis.

O avanço das entregas de moto ; de produtos à comida ; pode agravar ainda mais esse quadro dramático. Dos motociclistas mortos este ano, 44% tinham entre 30 e 39 anos, ou seja, estavam no auge da vida produtiva. A morte deles e de todas as vítimas de trânsito no Brasil não têm preço para familiares e amigos. Mas o mercado quantifica os custos dos acidentes para o país. E eles são altos: cerca de R$ 50 bilhões por ano, segundo levantamento do Ipea de 2016. Apesar da cifra, o Estado brasileiro segue ignorando a epidemia de mortes no trânsito. A pergunta que fica é: quem ganha com essas tragédias diárias?

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