Opinião

Artigo: O filme que Collor já viu

As polêmicas levantadas por frases de Bolsonaro e seus filhos acaba escondendo as notícias boas da economia

Plácido Fernandes
postado em 04/11/2019 10:25
[FOTO1]Neste ano, o Brasil coleciona uma pilha de boas notícias na economia. Não acredita? Então, vejamos: seis meses seguidos de criação de emprego com carteira assinada; a menor taxa de juros da história; inflação sob controle; dívida pública em queda; a mais ambiciosa reforma da Previdência já aprovada; lucro de 100% no FGTS para trabalhadores e liberação de R$ 500 nas contas do fundo de garantia; risco-país no menor patamar desde 2013; criação do 13; salário do Bolsa Família; leilões que estão prestes a confirmar o país como principal destino de investimentos das maiores petroleiras do mundo...

Mas... Sim, agora o real: não estivesse o país ainda se debatendo para sair do fosso da pior recessão de todos os tempos, um legado do governo Dilma, certamente os resultados já estariam sendo sentidos pela população, e não apenas por alguns setores do mercado, da economia real e de investidores internacionais. No entanto, além de ainda terem efeito limitado na vida das pessoas, as boas notícias da economia quase não ganham destaque porque, quase todos os dias, o país é vítima da metralhadora de polêmicas que Bolsonaro e filhos disparam e que acabam tomando conta do noticiário.

Será que o Brasil já viveu situação semelhante? Em entrevista ao Correio, Collor diz acreditar que sim. Ele admite que a soberba lhe subiu à cabeça depois de eleito presidente da República, vê semelhanças entre seu governo e o atual, alerta para a importância de ter uma base política no Congresso e lembra que incorreu no mesmo tipo de equívoco que parece acometer o hoje chefe do Executivo. ;Quando me elegi, eu disse: ;Bom, sou um super-homem;. Isso é um erro e está acontecendo agora;, avalia. ;Eu já vi esse filme.;

Desgastado por escândalo de corrupção e medidas impopulares na economia, como o confisco da poupança, Collor acabou despejado do Planalto por um impeachment. Apesar de não contar uma sólida base de apoio no Congresso, Bolsonaro, ao contrário de Collor, não enfrenta denúncias de corrupção. Além disso, se beneficia da agenda econômica tocada pelo ministro Paulo Guedes e, sobretudo, pela atuação dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que têm se comportado como se fossem primeiro-ministro de um inexistente governo parlamentarista.

Coincidentemente, a pauta liberal abraçada pelo Congresso se mostra muito parecida com a de Guedes. Amigo de longa data do ministro, Maia mantém diálogo franco com ele e se destaca pelo empenho na aprovação de medidas de modernização do Estado e da economia. A sintonia se repete no Senado, com Alcolumbre. É o que tem rendido ao país os bons resultados listados no início deste artigo. Até aqui, apesar de divergências pontuais nas propostas em discussão, a trinca ; com Guedes e equipe econômica evitando holofotes ; vem funcionando a favor do país. É o que salva.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação