Opinião

Artigo: Fácil de entender

Embora não esteja claro, parece que Bolsonaro vai trilhar o único caminho viável: comandar a formação de um novo partido

Saulo Rocha*
postado em 06/11/2019 04:15
[FOTO1]A guerra aberta dentro do PSL, pela observação das regras que regem os partidos, deixa claro, em uma análise primária, que só tem um perdedor de fato: o PSL oficial do presidente Bittar. Preliminarmente, é fato óbvio que o PSL não carrega grandes nomes como lideranças estaduais no espaço da Câmara e do Senado. O PSL elegeu muitos deputados federais e até senadores que, sem o fenômeno eleitoral chamado Bolsonaro, com certeza, não se elegeriam. Isso é um fato. Por outro lado, todas as pesquisas realizadas nos últimos tempos demonstram que existe uma parcela ponderável do eleitorado que tem uma fidelidade canina a Bolsonaro, que não mudará de lado.

Em política, paixão é paixão e pronto. A história mostra isso, seja no plano estadual ,seja nacional, onde existiram lideranças fortes cuja característica era a contundência, no estilo que Bolsonaro copiou. Só para lembrar alguns nomes: Getúlio, Lacerda, Adhemar de Barros, Jânio Quadros e Lula nos tempos recentes. Por isso, com raras exceções, quem está no PSL e não se alinhar a Bolsonaro vai ter muita dificuldade para se reeleger.

Embora não esteja claro, parece que Bolsonaro vai trilhar o único caminho viável: comandar a formação de um novo partido. O tempo adequado para isso é logo após a eleição municipal, quando os olhos da política estarão voltados para a eleição de 2022. Sem dúvida que atrairá no mínimo 80% da atual bancada do PSL, porque ninguém é bobo, e os parlamentares estarão focados na renovação do mandato. Levará o novo partido não só isso, mas vários deputados que estão no quadro do Centrão e, o que é muito importante: grande número de prefeitos e vereadores eleitos em 2020.

Fundamental entender que no jogo político o vital é a sobrevivência. Após a eleição municipal, a ficha dos deputados federais vai bater no chão. Todos que estão em partidos médios vão analisar o quadro eleitoral de seus estados e vão descobrir que sem coligação poderá ter uma reeleição de alto risco, que diminui muito se migrarem para o novo partido do Bolsonaro. Com isso, o partido de Bolsonaro arrecadará um grande número de candidatos com alto potencial eleitoral, melhorando, inclusive, a posição no Nordeste, que hoje é frágil no PSL.

O PSL do Bittar neste quadro não terá a mínima condição de sobreviver e só lhe restará a alternativa de se incorporar a um dos partidos do Centrão que ainda se mantiver vivo. Convenhamos que não é uma boa solução porque não se saberá qual a viabilidade do candidato a presidente desse partido ou coligação. Concretamente, pode-se afirmar que se tiver mais de um candidato de centro, Doria e Luciano Huck, por exemplo, será grande a possibilidade de se repetir a disputa de segundo turno de 2018.

Importante entender que, com as novas regras, principalmente a proibição de coligação nas eleições proporcionais, o nível de segurança na eleição de deputado federal ficará muito comprometido nos partidos médios, aí entendido PSDB, MDB, DEM, PL, PR, PRB e o bom senso indicará que terão que se fundir e os outros partidos sem densidade estadual, como PPS, PV, Rede, Podemos,, Patriotas,, PSol, PCdoB terão de se incorporarem a algum partido que ficou denso, porque serão extintos pela cláusula de barreira se não fizerem isso.

Comportamento, onde o bom senso passa longe, com comandos partidários não se mobilizando para achar o novo caminho, que passa por incorporações ou fusões imediatas, para ter quadros para a disputa da eleição municipal, terá um preço muito caro, porque a eleição de 2022 para deputado estadual e federal ficará nas mãos de quem realmente tem votos para somar na montagem das chapas: candidatos derrotados a prefeito e vereadores eleitos em 2020. Esses serão os candidatos naturais para compor as chapas de deputado estadual e federal, o caminho natural para consolidar votação e eleger deputados federais, principalmente. Importante lembrar que o vereador que disputar a eleição de deputado mantém seu mandato em caso de derrota. Vamos assistir a uma ação que valorizará a participação partidária a partir dos municípios. É o que vai acontecer porque não existe outro caminho. Os partidos retornarão ao comando do jogo político. Quem achar que não será por aí, com certeza não entende o jogo eleitoral. Será apenas um retorno a uma realidade concreta de quando os partidos eram fortes. Voltaremos ao tempo de PSD, UDN, PTB , PSP e PDC.

*Ex-deputado federal, um dos fundadores do PSDB e, depois, do PSD

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