Opinião

Artigo: Para cada morto, 39 feridos

As autoridades deste país precisam enxergar a segurança viária como prioridade. Precisam desenvolver projetos capazes de tornar o direito do cidadão de se locomover com segurança uma realidade

Adriana Bernardes
postado em 14/11/2019 04:15
[FOTO1]A falta de políticas de Estado eficientes para enfrentar a epidemia de acidentes no trânsito deixa um rastro de mortos e feridos no Brasil e no Distrito Federal. Apesar de ter conquistado uma importante e sustentada queda de fatalidades nas vias ao longo dos últimos 10 anos, o governo do Distrito Federal só cumprirá a meta de reduzir à metade o número de mortos no trânsito em 2020 se conseguir reverter o considerável crescimento de óbitos de motociclistas na capital.

A incapacidade de reação dos governos, nos âmbitos local, federal, estadual e municipal, é tão evidente que as discussões sobre a necessidade de diminuir o número de feridos nas tragédias diárias sequer entrou na pauta. Os mortos poderiam alcançar um número ainda mais expressivo, uma vez que são muitos os que escapam com ferimentos leves ou sequelas permanentes.

Para se ter uma ideia, a estatística mais recente produzida pelo Departamento de Trânsito (Detran) é de 2017 ; a do ano passado está em fase de conclusão ; e revela que, para cada morte no trânsito do DF, 39 pessoas ficam feridas.

A proporção é bem maior que o registro de 2011, quando, para cada óbito, houve 26 feridos. Ou em 2009: o registro era de um óbito para 31 feridos. As mais recentes estatísticas superaram também as de 2007, quando 30 pessoas ficaram feridas para cada morte.

Em vez de buscar parcerias com quem pesquisa o tema e tomar decisões amparadas em números e estudos, o que temos assistido são a decisões com base nos próprios desejos. Como aquele menino mimado, dono da bola que, contrariado, coloca a redonda em baixo do braço e faz prevalecer sua vontade contrariando as regras do jogo.

Quando se trata da segurança viária, o comportamento se assemelha ao do dono da bolo, quando se é contra a redução dos limites de velocidade das vias só porque não se poderá acelerar o carro; ignora-se que fiscalização eletrônica de velocidade é um instrumento imprescindível para salvar vidas; afrouxa-se o combate à alcoolemia por discordar do rigor da lei. São atitudes inadmissíveis para homens e mulheres com o poder de mudar tudo numa canetada.

As consequências são mais vidas perdidas. Mais feridos, mais pessoas incapacitadas para o trabalho e para o convívio social. As autoridades deste país precisam enxergar a segurança viária como prioridade. Precisam desenvolver projetos capazes de tornar o direito do cidadão de se locomover com segurança uma realidade. Poderiam começar formando uma nova geração de motoristas: educação para o trânsito no currículo escolar de crianças e adolescentes seria um bom início e, talvez, a transformação mais revolucionária nessa área no país.




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