Opinião

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Desde 1960

postado em 14/11/2019 04:15
A cultura na alça de mira das ideologias

Ao longo da história humana, é possível observar que, entre todos os elementos que concorreram para a formação e moldagens das diversas civilizações mundo afora, a cultura, sem dúvida alguma, desponta como o principal fator que melhor traduz a alma de um povo, seus costumes, tradições, crenças, folclore, enfim, a sua identidade. Por isso mesmo, todos os povos que almejaram dominar e conquistar uma população e território, anexando, pela força, outras civilizações, tomavam como primeira iniciativa a destruição da cultura e dos valores imateriais dos conquistados, de forma a atingir, na alma, esses seres apoderados.

Dessa forma, fica evidente que um povo sem essa alma, propiciada pela cultura, se torna presa fácil para aqueles que desejam dominá-lo. Embora reúna, em si, os mais fortes e duradouros laços a unir um povo, a cultura também é elemento tênue, capaz de se desmanchar no tempo, quer por ação de uma outra cultura externa, quer, principalmente, pela ação e interesse de governos e ideologias. Assim é que, toda vez, que se observa a mudança de governo e, sobretudo, de orientação político-ideológica, o primeiro setor da sociedade a experimentar e a sentir na pele essa mudança de rumo, é justamente a área cultural.

A queima de livros na Alemanha nazista, na Espanha, de Franco, e de Salazar, em Portugal, a perseguição aos artistas e intelectuais, na China de Mao, as prisões nos Gulags, na União Soviética, de Stalin, as censuras e prisões da Ilha, dos Castros, e muitas outras intimidações e mortes aconteceram, tanto por ditadores de direita quanto de esquerda. Os dois extremos sempre estabeleceram políticas contra a cultura e seus protagonistas ao longo do tempo da história da humanidade.

Um fato, porém, pode ser destacado: foi somente em países que optaram pelo sistema capitalista, que a cultura encontrou os mais livres caminhos para percorrer e florescer. Foi assim na Itália renascentista, no início do capitalismo comercial, em Florença e em outros sítios pelo mundo. Tem sido assim na Europa Ocidental do pós-guerra, nos Estados Unidos e em muitos outros países. Isso demonstra que a liberdade é o melhor e o mais propício solo para germinar a semente da cultura. Em países como o nosso, onde tradicionalmente a cultura, produzida no meio urbano, foi, em sua maior parcela, sempre atrelada e alimentada por recursos do Estado, falar em produção de artes independente de governos é sempre uma exceção.

A existência de um ministério da cultura, de uma secretaria de cultura, de fundações ligadas às artes, à existência de museus e a outras instituições de Estado, vinculadas à produção de arte e cultura, denotam, no Brasil, a estreita relação entre governo e cultura. Desse modo, fica difícil falar em cultura e seu fomento sem mencionar o Estado e o governo. É sob esse viés que tem funcionado todo o sistema de cultura de nosso país, mesmo em seus aspectos ligados ao folclore regional, explorado pelas agências de turismo de cada estado.

Com uma ligação umbilical como essa, não seria espantoso verificar que a mudança de sinais ideológicos da esquerda para a direita, operada com a saída do petismo do poder, dando lugar ao governo de Bolsonaro, necessariamente se refletiria no mecanismo estatal que fomenta a cultura. Artistas e manifestações de arte ligadas ao antigo governo perderam suas fontes originais de financiamento. Do mesmo modo, artistas e obras, com viés de direita ou que foram assim taxados, também eram impedidos e até perseguidos pela esquerda no passado.

Infelizmente, tanto para um lado quanto para o outro, é complicado para qualquer dirigente do Estado liberar o financiamento de obras que, ao fim e ao cabo, tecerão críticas ao seu governo. Posto dessa maneira, fica claro que o inimigo da cultura é a ideologia de plantão. Tanto esquerda quanto direita são nocivas à produção de artes e cultura. O difícil é explicar e convencer os governos que vêm e vão dessa realidade. Enquanto a cultura nacional depender das benesses do Estado será assim. É como um menor de idade que vive com os pais: tem sua independência atrelada a certos controles, que tolhem a plena liberdade.





A frase que foi pronunciada

;Os quadros que eles penduram nos restaurantes não são muito melhores do que a comida servida nos museus.;
Peter de Vries, novelista de Chicago(1910-1993)





Lembrança
; Entre as comemorações dos 60 anos de Brasília, os moradores foram convidados a escolher a árvore mais bonita da cidade. Era uma paineira maravilhosa que ficava num balão da Vila Planalto e foi eliminada sem a menor necessidade.


Alienação parental
; As advogadas Sandra Vilela e Giselle Groeninga sugerem à imprensa um estudo mais aprofundado sobre alienação parental. Matérias sensacionalistas não ajudam em nada. Milhares de crianças que sofrem com esse fenômeno social. ;A mídia tem levantado a discussão sem nenhum fundamento legal, trazendo matérias sensacionalistas, surgindo a necessidade urgente de amplo debate acadêmico sobre essa lei;, diz Sandra Vilela. ;Tais argumentações acabam por dificultar que se iluminem os pontos a serem aperfeiçoados na lei. E, ainda, a ligação da alienação parental com pedofilia presta um enorme desserviço ao necessário combate dessa prática nefasta;, avalia a psicóloga e advogada Giselle Groeninga. Vejam no Blog do Ari Cunha um documentário sobre o assunto.





História de Brasília
De mal a pior, o serviço telefônico. Mas, mesmo assim, as estatísticas mostram que a maior demora já verificada, na espera do ruído em Brasília, foi inferior à normal do Rio de Janeiro. (Publicado em 6/12/1961)





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