Ana Dubeux
postado em 17/11/2019 10:13
[FOTO1]Pode ser sutil e disfarçado. Pode ser absoluta e incontestavelmente real, como demonstram as estatísticas sobre assassinatos, mercado de trabalho, renda, nível de instrução e por aí vai. O racismo existe no Brasil. Com a palavra, o jornalista, pesquisador e escritor Laurentino Gomes: ;O verdadeiro racismo não se expressa apenas com palavras e atitudes ofensivas, que a lei proíbe, mas na recusa em dar oportunidades às pessoas negras ou afrodescendentes de se realizarem plenamente como seres humanos. Esse é o famoso racismo estrutural, enfronhado na nossa maneira de ser, de agir e de pensar;.Laurentino acaba de lançar Escravidão ; Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares, primeiro volume de uma série que vai recontar a história da escravidão e demonstrar como essa condição foi determinante para a própria história do Brasil: os ciclos econômicos, os regimes políticos, a formação da sociedade brasileira. A entrevista concedida por Laurentino ao editor José Carlos Vieira, publicada hoje no Correio, é uma baita oportunidade para fazer uma reflexão séria e profunda sobre os impactos da escravidão e do racismo, que persiste e insiste na punição de uma imensa parcela da população do nosso país.
Este é um momento ímpar para refletir sobre a condição dos negros no Brasil. Pelo menos 6 milhões de nativos foram retirados à força de suas nações na África para servir de mão de obra em terras brasileiras. Como pagar essa dívida? Essa foi uma das perguntas feitas a Laurentino. Ele foi categórico ao dizer que devemos fazer a segunda abolição, dando aos negros oportunidades para crescer na sociedade brasileira. O caderno Trabalho & Formação Profissional, editado por Ana Sá, mostra como é mais difícil para os negros arrumar emprego e conseguir salários justos. Ainda assim, lentamente, é possível observar pequenos avanços. Contamos histórias de quem se desviou da curva e conseguiu trilhar um caminho promissor, apesar do preconceito enraizado na sociedade.
Para marcar o mês da consciência negra, o Correio Braziliense também tem publicado a série ;Histórias de Consciência;. Mulheres e homens; artistas e professores; profissionais liberais e empresários ; todos negros ; que transformam todos os dias a própria história. São eles que, pouco a pouco, fazem a segunda abolição. Usam o talento, a garra, o empreendedorismo e a força de seus antepassados e familiares para sobressair numa sociedade que ainda lhes é profundamente injusta.
No próximo 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, todos nós brasileiros devemos fazer uma prece e pedir perdão pelo genocídio negro no Brasil, por todos os jovens da periferia que morrem todos os dias, por todas as mulheres negras assassinadas e estupradas, por todos os trabalhadores que permanecem em condições análogas à escravidão. O racismo resiste e só não vê quem não quer. E todos nós temos responsabilidade nisso.