Opinião

O Verbo eterno vencerá a maldade

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 18/11/2019 04:14

;O Verbo eterno vencerá as hostes da maldade.; Assim inicia a quarta estrofe do hino ;Deus é castelo forte e bom;, de Martim Lutero, inspirado no Salmo 46, cantado e difundido no âmbito das igrejas luteranas. Na busca incessante por um Deus misericordioso, que não castigasse, mas perdoasse e concedesse graça e perdão em Jesus Cristo, Lutero aquietou sua alma e experimentou o dom gratuito da graça e do amor do Todo-Poderoso Deus. Em uma pregação sobre esse salmo, pergunta: ;Mas será que você não percebe que o mundo é mau, que as pessoas não estão dispostas a manter a paz, roubam, furtam, matam, abusam de mulheres e crianças, desonram e tiram propriedades?;

Por ocasião dos 500 anos de seu nascimento em 1983, a Comissão Mista Católica-Luterana Internacional da Federação Luterana Mundial e do Pontifício Secretariado para a Unidade dos Cristãos do Vaticano reconheceram Lutero como ;Testemunha de Jesus Cristo;.
Em 31 de outubro, as Igrejas Luteranas comemoram a Reforma. A Reforma foi primordialmente um movimento musical. Com os sons da música, a causa reformatória alcançou não apenas a cabeça, mas também os corações das pessoas. Toda comunidade cantava. A música no culto deixou de estar reservada para o grupo de elite dos sacerdotes e corais. A capacidade do membro comum das comunidades em poder participar ativamente na liturgia fortaleceu a autoconfiança religiosa e a sua conscientização.

Foram as 95 teses, no entanto, que entraram para a história como sendo o início da Reforma da Igreja Cristã. Houve já quem contestasse a veracidade histórica desse feito. Reconhece-se hoje que ;não se pode afirmar de maneira peremptória (...) que elas foram de fato afixadas no dia 31 de outubro de 1517. (...) Pode-se apenas ter o fato como provável.;. Afixadas e/ou enviadas às autoridades eclesiásticas competentes (arcebispo Alberto de Mogúncia) ou não, ;pode-se continuar a considerar o 31 de outubro como a data de nascimento da Reforma.;

Depois de séculos e superadas tensões, conflitos e discriminações, comemoramos hoje o 20; Aniversário da assinatura da Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, fato histórico que ocorreu em 31.10.1999, na Igreja de Santa Anna em Augsburgo na Alemanha, e, ao mesmo tempo, em Brasília, entre a IECLB e a CNBB.

A Doutrina da Justificação teve importância central para a Reforma luterana do século XVI. Era considerada o primeiro e principal artigo e, simultaneamente, regente e juiz sobre todas as partes da doutrina cristã. Com razão, os reformadores designaram o artigo da justificação como o artigo pelo qual a Igreja persevera ou cai. Sacerdote é e pastor quem prega o puro Evangelho, ensina e vive, com temor e tremor, a palavra da verdade.

Já em 1980, por ocasião da comemoração dos 450 anos da Confissão de Augsburgo, constatava-se que essa confissão reflete ;um consenso de verdades centrais da fé; entre católicos e luteranos, ratificado pelo Papa João Paulo II ao Comitê Executivo da Federação Luterana Mundial. Reconhecia-se, portanto, a afirmação comum de verdades essenciais, afirmadas por Lutero.

Confessamos agora juntos que, por graça, Deus perdoa o pecado, e nos liberta ao mesmo tempo do poder escravizador do pecado e presenteia nova vida em Cristo.

Ser justificado equivale dizer que eu obtenho a minha identidade, minha sustentabilidade, minha autoconsciência, não de minhas obras, não daquilo que eu produzo, mas da palavra que me assegura a promessa de que Deus me aceita e cuida de mim. A vida me é presenteada. Fé sempre será uma tomada de posição da pessoa a favor de Deus e contra si mesmo. Crer tem novo significado, é decidir-se por Deus, aprender e compreender sua misericórdia, seu perdão, seu querer, seus pensamentos (Isaías 55.8). Deixar Deus ser Deus, pois Ele está sempre a favor de mim.

Se Deus é por nós, escreve o apóstolo aos cristãos em Roma, quem será contra nós? Muitos, diriam muitos de nós! Importa celebrarmos esse acordo histórico como uma ponte para a unidade e anúncio da verdade fundamental da vida: Eu sou alguém, sou batizado, tenho dignidade, eu tenho um valor, independente do que eu possa ter, saber ou produzir.

A doutrina da justificação, em tempos de negócios e negociatas, fecha o mercado religioso e recoloca o norte da nossa fé: em vez de tentar chegar aos céus ; na Torre de Babel Gênesis 11, onde as pessoas queriam elas próprias fazer um nome para serem exaltadas pela posteridade ; Deus vem à Terra na pessoa e na obra de Jesus, nos perdoa e nos dá a sua justiça. Uma nova justiça: a justiça da fé.

A Declaração Conjunta sobre a Justificação pela graça revela a possibilidade de vivermos a mesma fé com expressões diferentes, como a grande comunidade do Pai, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, no caminho da unidade e na busca comum da verdade que nos une. Pois: As armas, o Senhor nos dá: Espírito, verdade./ Se a morte, eu sofrer, se os bens, eu perder; /que tudo se vá! Jesus conosco está./ Seu Reino é nossa herança!

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