postado em 21/11/2019 04:05
Desmatamento requer ação efetivaBrigar com os fatos tem nome. É ingenuidade ou má-fé. Um e outro conduzem ao mesmo resultado: o avanço do problema que se quer ocultar. O fracasso funciona como a tentativa de tapar o sol com a peneira. Embora ignorada, a realidade continua a mostrar a cara feia, assustadoramente feia.
É o caso do desmatamento na Amazônia. O ministro Ricardo Salles ; com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) ; curvou-se aos números. Reconheceu que a perda de floresta aumentou em um ano. Entre agosto de 2018 e 31 de julho de 2019, a alta foi de 29,5% em relação ao período anterior.
A cifra ; 9,7 mil km; ; equivale a seis vezes a cidade de São Paulo. Trata-se do maior percentual de destruição em duas décadas. Em 1998, a devastação saltou 31%. Depois registrou queda. Em 2013, retomou a tendência de alta. É injusto, por isso, debitar apenas na conta de Jair Bolsonaro, há 11 meses no poder, o recrudescimento da tragédia.
Governos anteriores compartilham a dívida ambiental. Entre eles, Dilma Rousseff e Michel Temer. Apontar o dedo, porém, não resolve a questão. Tampouco inibe os oportunistas, sempre à espreita de vácuos para promover atos criminosos. Impõem-se ações efetivas do Estado aptas a enfrentar o problema sem titubeios.
Reconhecer a existência do desmatamento é essencial para traçar estratégias de combate. Longe das bravatas verbais, que lembram o avestruz que enterra a cabeça e deixa o corpo à mostra, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acenou com a possibilidade de pedir a atuação das Forças Armadas na região. A providência comprovou ser eficaz durante a crise das queimadas.
Também afirmou a intenção de reativar o Fundo Amazônia. São R$ 3,4 bilhões pra lá de bem-vindos. Noruega e Alemanha, doadores dos recursos (além da Petrobras), recuaram quando o governo Bolsonaro tentou intervir nas regras de administração dos valores. Criado em 2008, o fundo fomenta projetos de combate ao desmatamento na floresta por meio de doações de países e empresas.
São iniciativas bem-vindas. Mas insuficientes. Uma das urgências é dar provas efetivas de desestímulo à devastação. Além de apoiar efetivamente os sistemas de controle e vigilância no Ibama e ICMBio, impõe-se mudar o discurso sobre a ;indústria da multa;. Se ela existe, os deslizes devem ser combatidos. O menos recomendado é tirar o sofá da cama.
Mesmo que o desmatamento seja cultural, como disse o presidente Bolsonaro, a cultura pode e deve ser mudada. Ninguém precisa inventar a roda para fazê-lo. Ambientalistas e cientistas já mostraram o caminho. Ricardo Salles reuniu-se ontem com os governadores da Amazônia Legal. Na oportunidade, falou em estratégias para reduzir o desmatamento de forma sustentável.
É importante que passe das palavras à ação. Em dezembro, Madri sediará a Conferência do Clima ; COP 25. O Brasil deve investir na própria imagem. A potência agrícola do mundo não pode aceitar a pecha de vilão ambiental.