Opinião

Contramão da história

postado em 24/11/2019 04:06

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acaba de jogar uma pá de cal nas já natimortas negociações de paz entre israelenses e palestinos pela disputa de territórios numa das regiões mais beligerantes do mundo, o Oriente Médio. A esperança de os dois povos conviverem sem enfrentamentos, o que ocorre frequentemente, foi praticamente sepultada com o reconhecimento da legalidade, pelos EUA, o maior aliado de Israel, dos assentamentos judeus na Cisjordâsnia, onde, teoricamente, deveria existir o Estado da Palestina, reivindicação histórica desse povo que vive na marginalidade, pois não tem um país de fato, conforme previsão de tratados internacionais.


A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de seguidas resoluções, tem reiterado, insistentemente, a ilegalidade dos assentamentos patrocinados pelo governo de Israel, numa clara afronta à Quarta Convenção de Genebra, que proíbe ;a deportação ou transferência de partes da população civil de um país; para um território ocupado por ele. Acontece que os palestinos lutam pela terra onde se encontram os assentamentos israelenses para a formação de seu sonhado Estado.


No entanto, o sonho só se transformará em realidade quando Israel atender o clamor internacional e desistir de ocupar áreas destinadas aos palestinos. E no momento em que países do peso dos Estados Unidos reconhecem a soberania israelense sobre essas áreas, fica praticamente impossível a criação de um Estado palestino com fronteiras contínuas. Se um dia este povo conseguir edificar seu país, o mesmo terá inúmeros enclaves da nação judia, o que fere os acertos patrocinados pela comunidade internacional.


Ao reconhecer a legalidade, o presidente norte-americano vai contra orientação implementada em 1978 pelo Departamento do Estado e seguida por governos democratas e republicanos de considerar ilegais os assentamentos na Cisjordânia. Na administração passada, o então presidente Barak Obama chegou a afirmar que eles eram verdadeiros obstáculos para se chegar a um acordo de paz e para a solução de dois estados na Palestina. A questão de fundo é que enquanto construía casas para judeus em terras palestinas, Israel destruiu milhares de residências em comunidades árabes.


A estratégia de patrocinar assentamentos em territórios anexados após conflitos armados começou em 1967, depois da Guerra dos Seis Dias, quando Israel ocupou as Colinas de Golã (Síria), a Faixa de Gaza (Egito) e a Cisjordânia (Jordânia), incluindo Jerusalém Oriental. A política de ocupação se intensificou a partir de 1978, e nos últimos 20 anos o número de colonos judeus na Cisjordânia e no setor árabe de Jerusalém mais do que dobrou.


Esta não é a primeira vez que Trump se alinha a Israel. Ele já reconheceu a anexação das Colinas de Golã, rejeitada pela ONU, e mandou transferir a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém, cuja parte oriental os palestinos consideram a capital de seu futuro país. A questão que se impõe é que, ao tomar medidas como essas, na contramão da história, Trump elimina qualquer possibilidade de os EUA atuarem como juízes neutros nas negociações de paz que devem e podem ser retomadas o quanto antes.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação