Opinião

ARTIGO

postado em 30/11/2019 04:15



O racismo e as crianças

Luana Génot teve de mudar de escola aos 9 anos porque a cor da pele a fazia alvo de ofensas racistas das coleguinhas. A mãe chegou a questionar a diretora do colégio sobre providências contra as hostilidades, mas ouviu dela que eram apenas brincadeiras de crianças. ;Aquilo me marcou;, disse a hoje ativista e fundadora do Instituto Identidades do Brasil, em entrevista à CBN.

O relato de Luana me fez lembrar de um episódio de 2018 na Espanha, registrado em vídeo, com milhões de compartilhamentos nas redes sociais. Num parque infantil de Bilbao, crianças brancas de uns 6, 7 anos impediram um menino negro, mais novo do que elas, de brincar num escorregador. A mãe do garoto, demonstrando uma calma impressionante, esperou que os meninos mudassem de atitude, mas eles seguiram bloqueando o brinquedo para que o garotinho não o usasse. Uma cena estarrecedora, ainda mais envolvendo crianças tão pequenas. Também impressionou o fato de elas não se intimidarem nem mesmo diante da mulher, ou seja, de uma pessoa adulta.

Duas meninas estavam especialmente determinadas a evitar que o garoto brincasse no espaço. Quando a mãe o levou para outro equipamento, elas foram para lá e continuaram a importuná-lo. A mulher, então, pegou o filho e foi embora.

O caso levantou debate no país sobre racismo, mas, nas redes sociais, muitos não viram discriminação no fato e o classificaram como coisa de criança ; na mesma linha daquela diretora da escola de Luana.

Crianças não têm noção do que é racismo. As atitudes que adotam são reprodução do que ouvem ou veem em casa. Um exemplo é justamente o caso de Bilbao. Os adultos que acompanhavam aqueles meninos e meninas ficaram indiferentes à situação.

Com o racismo tão universal quanto difícil de ser extirpado, a luta por igualdade tem de começar já na primeira infância. Crianças devem ser ensinadas a respeitar raças, culturas, etnias. Elas têm de ser conscientizadas de que não há brincadeira na discriminação, mas, sim, uma grande carga de sofrimento. Vítimas de preconceito tendem a crescer com baixa autoestima, negando a própria imagem. Já mencionei aqui depoimento da rapper Karol Conká, que tentou ;descolorir; a pele com água sanitária, quando menina, de tanto ser perseguida na escola. A modelo goiana Tainara Santos viveu situação semelhante. Aos 6 anos, só pensava em crescer e fazer uma cirurgia para ficar branca. Desespero de crianças em busca de aceitação, uma das faces cruéis da discriminação racial.



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