Opinião

Artigo: Meter a colher, sim

Enfrentar a violência contra a mulher é, antes de qualquer coisa, mudar atitudes que se repetem à exaustão e consolidam uma prática criminosa

Ana Dubeux*
postado em 01/12/2019 04:15

[FOTO1]Não culpar a vítima. Não justificar a atitude do agressor. Denunciar sempre. Calar-se nunca. Meter a colher, sim! Enfrentar a violência contra a mulher é, antes de qualquer coisa, mudar atitudes que se repetem à exaustão e consolidam uma prática criminosa. Por meio de palavras, frases e ações, perpetuamos o machismo, o sexismo e o racismo, tríade do preconceito responsável pelo martírio das mulheres no mundo. A mídia tem um papel fundamental para desconstruir essa realidade.

Por isso, o Correio Braziliense tornou recorrentes tais temas em suas páginas. Para aprofundar essa discussão, ciente de sua responsabilidade como coautor da sociedade num caminho de mudança, o jornal realizou, na última quinta-feira (28/11), o 1; Colóquio Violência de Gênero e Mídia, em parceria com o Comitê Permanente de Promoção da Equidade de Gênero e Raça do Senado Federal. Dividido em dois painéis, seis palestrantes debateram com o público a forma como o assunto é tratado pela mídia em diferentes plataformas. Foi mais uma ação de uma campanha positiva e propositiva chamada 16 dias pelo fim da violência contra a mulher, iniciada em 25 de novembro, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Dia Internacional para Eliminação da Violência contra as Mulheres.

Da submissão historicamente imposta às mulheres, bem retratada pela editora de Opinião, Dad Squarisi, aos índices brutais de violência, incluindo mortes em série, o assunto foi debatido em dois painéis com seis palestrantes, de forma consistente, com dados reais preocupantes e uma reflexão comum: a prevenção passa, necessariamente, pela mídia, pelas salas de aula, pela ocupação feminina dos espaços de poder.

É na educacão que reside a estratégia mais fundamental para acabar com a violência de gênero. Falar sobre o tema e denunciar todos os casos é parte importante nesse processo. A diretora-geral do Senado, Ilana Trombka, lembrou que há quem defenda que a mídia não noticie feminicídios, como se o silêncio fosse inibidor do crime. Ledo engano. ;A violência mais preocupante é a simbólica. É aquela que quer invisibilizar a mulher. Que não quer que ela tenha lugar de fala;, disse.

Ilana tem razão. Não falar é tão somente assumir uma postura de omissão diante de uma realidade cruel. É preciso publicar, de maneira correta e usando expressões adequadas, matérias que não apenas retratem crimes, mas que contribuam com a mudança. Por aqui, garantimos frequência, consistência, debates. Em todas as editorias.

Garantimos que a morte de 30 mulheres só neste ano no Distrito Federal não serão esquecidas. Nossa voz é a voz de cada mulher que se cala todos os dias no Brasil e no mundo, amordaçada, violentada e morta. Falemos por elas. Todas nós. Com voz alta, firme e constante.


*Diretora de Redação do Correio

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