José Turozi*
postado em 05/12/2019 08:30
[FOTO1]Em 11 de dezembro é comemorado o Dia Nacional das Apaes (Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais). A data, instituída pela Lei Federal n; 10.242, em referência à fundação da primeira Apae no país, foi um marco para essas entidades que prestam relevante serviço à sociedade em vários segmentos, como na defesa de direitos das pessoas com deficiência; promoção e prevenção da saúde; apoio à família; atendimento educacional especializado; assistência social, além da preparação para o mercado de trabalho.
Segundo dados de 2011, da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 bilhão de pessoas vivem com alguma deficiência, sendo que 80% residem nos países em desenvolvimento. No total, 150 milhões de crianças têm alguma deficiência, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). No Brasil, de acordo com o Censo 2010, cerca de 24% da população declarou ter algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus), ou possuir deficiência mental/intelectual.
A falta de estatísticas sobre pessoas com deficiência contribui para a invisibilidade delas e representa obstáculo para planejar e implementar políticas de desenvolvimento que lhes melhorem a vida. Foi nesse contexto de instabilidade, insegurança e, principalmente, de muito preconceito e incertezas que, há exatos 65 anos, surgiram os primeiros movimentos de familiares e amigos de pessoas com deficiência intelectual ou múltiplas, organizados em grupos de assistência, oficialmente registrados como Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
À custa de muito trabalho, do apoio da sociedade e do comprometimento de cada apaeano, felizmente houve uma evolução desse trabalho e hoje essa rede movida à solidariedade e profissionalismo destaca-se pelo pioneirismo e capilaridade, com presença ativa de 2.216 Apaes e coirmãs filiadas em 40% dos municípios brasileiros, atuando em benefício de mais de 700 mil pessoas com deficiência intelectual e múltipla. É o maior movimento social do Brasil e do mundo na sua área de atuação.
São realizados mais de 23 milhões de atendimentos anuais nas áreas de assistência social, saúde e educação, por meio de 3.656 serviços e programas desenvolvidos pelas Apaes filiadas, nas áreas de escolaridade, saúde e outros. Além destes, as Apaes desenvolvem programas nas áreas de esportes, artes e cultura.
Numa breve avaliação dos esforços empreendidos em todos esses anos, é possível identificar frutos de uma luta incansável, como a incorporação do teste do pezinho na rede pública de saúde; a prática de esportes e a inclusão da arte como instrumento pedagógico na formação das pessoas com deficiência, entre outras iniciativas resultantes do empenho de uma corrente de solidariedade espalhada por todo o Brasil.
Voltando à equação que envolve esse trabalho voluntário no Brasil, se levarmos em consideração que as Apaes atendem 700 mil pessoas com deficiência em todo o país, no universo de mais de 20 milhões, chega-se à conclusão de que ainda é pouco o que se faz hoje. E que mesmo essa virtuosa missão ainda requer mais e mais parcerias, hoje, tão escassas no país.
Por isso, é preciso olhar para o futuro. Lá na frente, a Apae planeja a construção de novos centros de profissionalização em parcerias. Eles serão voltados para capacitar pessoas com deficiência para o mercado de trabalho. Muitos não sabem, mas ainda é insignificante o número de trabalhadores nesse restrito ambiente.
A semente dos centros de profissionalização em parceria, em cidades de grande porte comercial e industrial já foi lançada. O projeto já está em avaliação no Ministério da Cidadania e Direitos Humanos para capacitar pessoas para o mercado de trabalho. Agora, a missão é fomentar esse projeto.
São 65 anos de trabalho ético e cada vez mais transparente. Tanto que a entidade se prepara para implementar em todas as unidades do Brasil ferramentas de compliance, incluindo um portal de transparência para que a população que contribui com esse trabalho acompanhe a aplicação do recurso doado.
Com o crescente interesse das famílias de pessoas com deficiência mental e múltipla, mais Apaes podem ser criadas. Só assim será possível dobrar e triplicar o número de atendimentos aos que têm deficiência intelectual e múltipla. Esse desafio só será vencido com o apoio do Poder Público e da sociedade brasileira.
*Presidente da Federação Nacional das Apaes (Apae Brasil)
*Presidente da Federação Nacional das Apaes (Apae Brasil)