postado em 07/12/2019 04:05
Seis meses sem Rhuan
Esta semana, fez seis meses que Rhuan, 9 anos, foi tirado deste mundo de uma maneira atroz. Eu estava de plantão no jornal quando soube da barbárie em Samambaia. Foi como desabar. Faltou fôlego, tive dificuldade de me concentrar no trabalho, de segurar o choro. Ainda estava sob o impacto da perversidade cometida em Planaltina de Goiás contra uma menina de 7 anos, espancada até a morte pelos tios. Numa mesma semana, dois crimes hediondos contra crianças. E tão perto de nós.
As informações sobre o caso de Rhuan iam chegando e pintando um quadro medonho. Um ano antes de assassiná-lo e esquartejá-lo, as homicidas, a mãe e a companheira dela, o tinham submetido a um suplício inimaginável, decepando o pênis e os testículos dele em casa. Como uma criança pôde aguentar tamanho sofrimento? A partir de então, a urina só saía sob pressão, por um pequeno canal, e provocava dores terríveis.
O caso de Rhuan me abalou mais do que qualquer outro pelo assassinato extremamente covarde, pela crueldade da mutilação e pela vida de tortura que teve ao lado dos monstros. Foram muitos anos de martírio. Dependia de uma mãe que o odiava, não recebia amor, aconchego, estava sozinho, sem ninguém para socorrê-lo. Era proibido de estudar e brincar. Os maus-tratos ocorriam diariamente. E Rhuan sofria em silêncio. Ninguém nunca vai conseguir mensurar o nível de suplício sofrido por aquele menino, mas é enlouquecedor só imaginar.
Como saber de algo tétrico assim e não ser modificado de alguma forma? Eu fui. Não consigo deixar para trás. Sei que, com o tempo, a tristeza vai amenizar, mas, por enquanto, não posso evitá-la. Está entranhada em mim. Sinto que o mínimo que posso fazer é seguir chorando por ele. Ainda me vem aquela sensação de sufocamento quando penso no martírio que suportou.
Não queria usar esse espaço para fazer terapia, mas eu preciso continuar a falar de Rhuan. É uma necessidade de alma. Sou uma pessoa de fé e tenho convicção de que aquele garotinho está num lugar de descanso e recebendo todo o amor que lhe foi negado neste mundo maligno, mas não consigo superar, não ainda.