Opinião

Distrito Federal, território desigual

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 14/12/2019 04:42
Inesc e Movimento Nossa Brasília apresentam mais uma edição do Mapa das Desigualdades do Distrito Federal, com base nos dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios feita em 2018 e divulgada em 2019. Mais uma vez, detectou-se a desigualdade abissal existente nesse território, onde o grupo de maior renda representa cerca de 13% da população enquanto que o de menor renda, na outra ponta, tem 11% da população. No entanto, a distância que os separa, considerando as médias de renda familiar, é de 6,31 vezes, ou de R$ 15.622 para R$ 2.472.

Quando se olha para a população como um todo, ponderando os quatro grupos de renda, repara-se que o grupo 2, ou de renda média-alta, de R$ 7.266, contém 32% da população, enquanto que o grupo 3, com renda média-baixa, engloba 44% das pessoas, com renda de R$ 3.101. Dessa forma, entre rendas média-baixa e baixa, encontram-se 55% da população do DF. O cálculo considera as médias, o que significa que há famílias com rendas mais baixas ainda, bem como, no andar de cima, há rendas altíssimas, visto que a média já é alta.

Um dos cruzamentos feitos pelo Mapa das Desigualdades foi renda com raça/cor. Observa-se que, onde estão concentradas as menores rendas, a população é mais negra. Nos territórios que compõem o grupo 4, de rendas mais baixas, Fercal, Estrutural, Recanto das Emas, Paranoá, Itapoã etc., a maioria da população é negra. Ou 69,6 % do grupo 4 declara-se preto ou pardo e apenas 28,5% branco. Já no grupo 1, 65,8% declara-se branco e apenas 33% preto ou pardo, que são os residentes nos Lagos, Plano Piloto, Jardim Botânico, Park Way etc.

Outra questão relevante, que está diretamente ligada à desigualdade, diz respeito à distribuição dos tributos, pois os ricos tendem a reclamar sobre a quantidade de impostos que pagam, alardeiam pagar demais. No entanto, quando se olha para a composição da cesta de tributos, percebe-se que é o contrário, visto que em sua maioria são regressivos, ou seja, paga proporcionalmente mais quem menos tem. Além disso, os dados sobre infraestrutura e equipamentos públicos mostram que equipamentos se concentram nas regiões onde os mais ricos residem.

É nos locais de maior renda onde se concentram as políticas públicas, por exemplo, apenas 53% dos domicílios da Estrutural possuem calçada, contra 97% do Plano Piloto; 55% das ruas na mesma Estrutural estão pavimentadas, enquanto no Plano Piloto, 100%. No Plano Piloto, a maior parte das pessoas se locomove de automóvel (73%), enquanto que no Paranoá 60% se locomovem de ônibus. Apesar disso, de acordo com a população local, os ônibus são insuficientes para atender à demanda e já saem dos terminais superlotados. É necessário, ainda, dizer que a infraestrutura para carros é bancada com o conjunto dos impostos pagos por toda a população e usufruído por parte dela.

Com relação à educação, no Plano Piloto, 84,47% dos estudantes estudam próximo de onde mora. No Itapoã, 26,5% apenas estudam na mesma região onde moram, na Estrutural 50% em idade escolar estudam na região onde moram. Com relação à saúde, apesar de o Plano reunir a maioria dos equipamentos, entre postos e hospitais, 83% da população possui plano de saúde, contra 5% da Estrutural. Ainda assim, há apenas um posto de saúde para toda a cidade Estrutural, que não atende a toda a população demandante, que precisa se deslocar para outras regiões em busca do serviço.

Com relação à segurança, de acordo com os relatos coletados com metodologias qualitativas, o que se tem nas regiões periféricas é aparato para reprimir a população pobre e preta. Já nas regiões centrais, com as maiores rendas, há maior contingente para proteção da população.

Também não é novidade que os postos de trabalho são concentrados no centro, e a população do DF desloca-se pendularmente todos os dias. Diz-se que o Plano Piloto almoça com 2 milhões de pessoas e janta com os seus 214 mil habitantes. Ou seja, há enorme deslocamento, por meio de um serviço de transporte público precário e caro, com tarifas proibidas para ambulantes e desempregados. Talvez por isso tenha-se um terço da população que se desloca a pé.

Por último e não menos importante, há na região central do Plano, no Setor Comercial Sul, uma quantidade grande de imóveis vazios, que podem e devem ser pensados para moradia. Contudo, já se fala de revitalização do espaço e o que se presencia em todos os movimentos de ;revitalização; é a gentrificação, aprofundando ainda mais as desigualdades. Então, é preciso atenção e mobilização para que este território se desconstitua como o mais desigual.



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