Plácido Fernandes
postado em 16/12/2019 04:15
[FOTO1]A desprivatização do Estado, em curso no Brasil, deixa de cabelo em pé corporações do funcionalismo que lutam com unhas e dentes para manter privilégios. Enfrenta a ira da esquerda que aposta no quanto pior melhor. E bate de frente com setores da elite econômica acostumados a viver de escandalosas benesses bancadas pelo erário. Ou seja: por nós, a população que trabalha, pelo menos, cinco meses por ano apenas para pagar impostos. Apesar de a carga tributária ser uma das maiores do planeta, os serviços públicos estão entre os piores do mundo.
Haja dinheiro para manter essa estrutura nababesca, enquanto o país é condenado ao atraso. Grandes bancos, por exemplo, sempre lucraram horrores com a insana ciranda de financiamento do governo. Hoje, com a redução da taxa básica de juros a 4,5% ao ano ; menor patamar da história do país ; e a caminho de se igualar à das economias mais desenvolvidas do planeta, banqueiros veem os lucros caírem. Além disso, perdem espaço e clientes no mercado devido à concorrência das fintechs, startups financeiras que começam a receber sinal verde do governo para atuar como bancos virtuais.
Ainda assim, os bancões insistem em cobrar juros indecentes no cartão e no cheque especial dos clientes, mesmo sob pressão do Banco Central, que tenta baixar as taxas a fórceps, lançando mão de mecanismos regulatórios, e do governo, que usa a Caixa e o BB como pontas de lança no corte de encargos para expor contradições e forçar o movimento de corte de juros também no setor privado. Marcha à ré liberal? Não. Países da União Europeia e os EUA empregam medidas semelhantes para defender seus cidadãos de abuso dos donos do capital.
Além da batalha para manter inflação e juros em níveis civilizados, o Brasil assiste a uma guerra pela privatização de estatais e pela redução de privilégios do funcionalismo. Não será fácil. O poderoso lobby das corporações vai lutar com todas as forças para impedir a modernização do Estado, que, aliás, já começou. Hoje, pela internet, a população já tem acesso a uma série de serviços públicos. Livrou-se, por exemplo, da via-crúcis por repartições, da perda de tempo, da humilhação, da sensação de impotência e do mau humor que costumava enfrentar para tirar uma carteira de trabalho ou para saber se já tinha tempo suficiente para a aposentadoria. Hoje, já pode fazer as duas coisas on-line, sem sair de casa.