Opinião

Artigo: Educação é tudo

A educação atinge níveis preocupantes não pelo legado de Paulo Freire, mas pela ingerência do Estado e pela capacidade de ignorar o óbvio

Rodrigo Craveiro
postado em 18/12/2019 04:39
[FOTO1]Paulo Freire foi um energúmeno. As universidades brasileiras abrigam produções extensivas de maconha. A TV Escola deseduca. Provas do Enem estavam contaminadas pelo discurso da ideologia do gênero. As declarações acima seriam absurdas por si só, mas se transformaram em bizarrices ao terem como origem o próprio presidente da República e seu ministro da Educação. Duas das maiores autoridades do país cujas obrigações? seriam zelar pelo ensino no Brasil, sem qualquer viés ideológico, e compreender a importância histórica de nosso patrono da educação.

Enquanto aponta a esquerdização das universidades no Brasil, o governo ignora o fato de que a educação atinge níveis preocupantes. Não pelo legado de Paulo Freire, mas pela ingerência do Estado e pela capacidade de ignorar o óbvio. Poucos são os estudantes que conseguem elaborar uma redação coesa, com introdução, argumentos e conclusão. Poucos estão aptos a resolver questões de matemática de dificuldade média. Em vez de fazerem afirmações obtusas e toscas, as autoridades brasileiras tinham o dever de reformular o ensino no Brasil, depois de avaliar falhas estruturais e de apontar soluções. Em vez de considerarem as universidades antros de maconheiros, elas deveriam evitar o sucateamento das instituições e aplicar recursos no ensino e na pesquisa.

A despeito do ensino deficitário, em parte por culpa do Estado, que não investe, nossas universidades têm produções científicas exemplares. Elas funcionam como incubadoras de novas tecnologias e novos recursos da medicina. Para entender as declarações das autoridades brasileiras, talvez basta perceber que a educação também molda o caráter humanista e político do cidadão. Pessoas educadas se indignam mais com as mazelas dos governantes, se mobilizam e exigem mudanças. Um povo unido e informado não convém para o poder. Talvez por isso tantos governantes desprezam a educação e infernizam a imprensa.

Se vivo estivesse, muito além de revoltado com a calúnia, Paulo Freire estaria envergonhado pelo ponto ao qual o Brasil chegou. Uma nação comandada pelo medo da esquerda e por uma ideologia ultraconservadora. Um país que falha ao não olhar para suas próprias falhas e que trata a educação como quinquilharia. Permita-me adotar o velho chavão, mas educação é futuro. Educação é tudo. Um povo ignorante vive sem perspectivas, se torna massa de manobra, vive de cabresto. Viva Paulo Freire!

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