postado em 23/12/2019 04:04
O câncer de mama vem sendo cada vez mais debatido no Brasil. Por ser o segundo tipo de câncer mais frequente no sexo feminino, após o câncer de pele não melanoma, e também o que mais mata as mulheres, muitos se perguntam se a sua ocorrência está aumentando no país, especialmente entre as mais jovens.
Um olhar para a incidência ; número de casos novos da doença em determinado ano ; permite nos aproximarmos da questão. O Inca publica estimativas de câncer periodicamente, e elas ajudam os gestores a organizarem a oferta de serviços de saúde. Tais informações são elaboradas com base nos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP), presentes em 33 localidades de várias regiões do país, incluindo capitais.
Todos os registros possuem controle de qualidade da informação nos moldes da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês), da Organização Mundial da Saúde (OMS), e compartilham publicamente os dados sobre o perfil do câncer em sua área de cobertura. São elas que melhor permitem expressar a real ocorrência do câncer no país.
Observando-se as taxas de incidência de câncer de mama dos anos 2000 a 2014, verifica-se tendência de aumento em mulheres de 70 anos ou mais, enquanto em mulheres de 40 a 49 anos observa-se declínio. Nas faixas etárias de 50 a 69 anos e também em mulheres mais jovens, de 20 a 39 anos, a incidência vem se mantendo nos patamares. Apesar de os registros estarem em diferentes momentos de atualidade, optou-se por utilizar esse período pelo fato de ele concentrar o maior número de informações.
O que podemos refletir sobre esse panorama? Apesar de especialmente impactante, o câncer de mama em mulheres muito jovens é raro e sua incidência mantém-se baixa, em torno de 16 casos por 100 mil mulheres, em 2014. Como esperado, o risco de adoecer aumenta com a idade e as taxas mais elevadas ocorrem nos grupos de 50 a 69 anos (200 casos/100 mil mulheres) e no grupo de 70 anos e mais (240 casos/100 mil mulheres). A mediana de idade no início do diagnóstico de câncer de mama no Brasil é de 56 anos.
Em mulheres de 40 a 49 anos, a taxa é menor (100 casos/100 mil mulheres). Para essa faixa, o Ministério da Saúde não recomenda a realização de mamografia de rotina em função da provável ausência de benefícios e dos riscos associados, tais como resultados falso-positivos, falso-negativos, sobrediagnóstico e sobretratamento. Mulheres desse grupo devem ser informadas e precisam ficar especialmente atentas às mamas, de modo a buscarem atenção médica o quanto antes em caso de alterações suspeitas. Para mulheres sem sinais e sintomas suspeitos, o Ministério da Saúde recomenda fazer mamografia dos 50 a 69 anos, uma vez a cada dois anos.
Além das diferenças etárias, cabe destacar que o câncer de mama ocorre de forma discrepante entre as regiões do Brasil e tal diversidade requer análises mais aprofundadas quanto ao padrão de ocorrência da doença. Outras informações, como as divulgadas em estudo do Inca de 2019 sobre a situação do câncer de mama no Brasil, nos fornecem dados preocupantes, que nos fazem olhar para além da questão da detecção precoce.
Fatores de risco comportamentais para a doença investigados na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2013) mostram tendência de aumento de peso corporal, que já atinge mais de 50% das mulheres, sendo também fator que eleva o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e outras doenças crônicas não transmissíveis. A ele se somam fatores como a insuficiência de atividade física e o consumo de bebidas alcoólicas. Por seu lado, temos a boa notícia do aumento do aleitamento materno, fator de proteção contra o câncer de mama, ainda que com boa margem de expansão como prática social e para o qual precisamos ampliar oportunidades.
A preocupação com o câncer de mama deve, portanto, incluir também a prevenção primária e não apenas a detecção precoce. Estima-se que quase 30% dos casos possam ser evitados por meio da alimentação saudável, atividade física regular e peso corporal adequado. É preciso trazer esse tema ao debate.
Promover a saúde deve ser uma prática abraçada pelos indivíduos e pelas políticas públicas. Numa sociedade que envelhece a passos largos, o que por si só alavancará a ocorrência do câncer na população, temos que nos valer de todas as estratégias para minimizar o impacto inevitável do aumento da doença na população.