postado em 23/12/2019 04:04
As atividades culturais e criativas são vocações do Brasil e constituem poderoso vetor de desenvolvimento humano, econômico e social. Estão no DNA da nossa sociedade e podem contribuir ainda mais para o crescimento do país e a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
O Brasil tem tudo para se tornar uma das grandes potências culturais e criativas do planeta no século 21. Os ingredientes estão presentes. Para isso, é preciso reconhecer e valorizar mais o setor, atualizar os marcos regulatórios, transformar as políticas de governo em políticas de Estado e investir com mais eficiência, respeitando a liberdade de expressão e a propriedade intelectual.
É preciso também colocar em curso estratégia eficaz de posicionamento global e de atração de investimentos, como evidenciou a recente missão a Los Angeles e São Francisco empreendida pelo governador de São Paulo, João Doria, e o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade.
Os países desenvolvidos apostaram (e apostam) nesse setor, inclusive em governos com agenda liberal e conservadora. Reino Unido, Cingapura e Coreia do Sul são exemplos significativos. O contexto atual, aliás, não poderia ser mais favorável. A integração entre arte, criatividade, inovação e tecnologia está transformando aceleradamente o mundo. A quarta revolução industrial e a convergência digital são baseadas em capital intelectual e potencializam exponencialmente a geração de valor e de bem-estar. Empresas de telecomunicações, tecnologia, conteúdo e entretenimento crescem rapidamente e caminham na mesma direção.
A economia criativa já responde por 2,64% do nosso Produto Interno Bruto (PIB) e 1 milhão de postos de trabalho. Trata-se de um dos 10 maiores setores econômicos do país. Em São Paulo, as atividades culturais e criativas produzem 3,9% do PIB estadual e cerca de 50% do PIB da economia criativa brasileira. Há ainda um vasto potencial de crescimento: 4,6% ao ano nos próximos cinco anos, segundo a consultoria PriceWaterhouseCoopers.
Estudos feitos pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostram que o aumento do investimento em atividades culturais e criativas produz triplo ganho. Em primeiro lugar, impacta positivamente as pessoas, contribuindo para a melhoria da formação, da autoestima e da qualidade de vida. Em segundo, eleva (e muito) a geração de emprego, renda e inclusão, pois o retorno sobre investimento costuma ser alto. Em terceiro, eleva a arrecadação de impostos e produz mais recursos para outras áreas, como turismo, educação, saúde e segurança.
Exemplo recente é o Revelando SP 2019, festival de economia criativa realizado em novembro para valorizar a arte tradicional do interior do estado. Segundo estudo da FGV Projetos, o evento gerou impacto econômico de R$ 94,9 milhões em cinco dias, com custo de realização de R$ 3,5 milhões. Graças à movimentação econômica, o poder público arrecadou R$ 12,3 milhões em impostos; e foram gerados 1.324 empregos. Os 498 expositores tiveram receita total de R$ 1,5 milhão.
O investimento em arte, cultura e economia criativa deve ser, portanto, um dos eixos centrais de um projeto sério e responsável de desenvolvimento para o Brasil. Não podemos desperdiçar o talento, a criatividade, a energia, a diversidade e o empreendedorismo que são marca da nossa sociedade. Sem falar que não há melhor antídoto para um dos maiores problemas brasileiros, o elevado desemprego entre jovens, que chega a 28%.
A aceleração do desenvolvimento do Brasil passa, necessariamente, pelo fortalecimento das atividades culturais e criativas em todas as regiões. Mais cultura significa mais renda, mais emprego, mais bem-estar, mais felicidade e mais desenvolvimento para todos. Com liberdade e dignidade.
São Paulo está realizando, em 2019, investimento recorde na área, de R$ 1,2 bilhão, além de estimular o setor privado a fazer sua parte. Em São Paulo, cultura é prioridade. Não apenas no discurso, mas, sobretudo, nas ações. Questão de bom senso. Torço para que os resultados positivos estimulem outros estados. E o país.