Armando Castelar*
postado em 25/12/2019 04:05
Antes de mais nada, boas-festas para todos. Que 2020 seja um ano de muita felicidade. Que só os muito otimistas acertem suas previsões.O ano de 2019 acabou terminando melhor do que se temia no meio do ano, quando o analista mediano de mercado previa alta do PIB de apenas 0,8%, contra uma previsão atualizada de 1,2%, a mesma do Banco Central (BC). Há, em especial, uma expectativa favorável sobre o quarto trimestre, quando a liberação do FGTS e do PIS/Pasep deve impulsionar a economia.
Os resultados para o mercado de trabalho, como reportados pelo IBGE, foram mais ambíguos. Assim, a taxa de desocupação em outubro deste ano, última disponível, foi de 11,6%, quase a mesma de um ano antes: 11,7%. Essa estabilidade esconde, porém, a alta no número de pessoas ocupadas: 1,6% na mesma comparação. Uma expansão maior que a do PIB entre os terceiros trimestres de 2018 e 2019: 1,2%.
Assim, a taxa de desocupação não caiu mais não porque as pessoas não tenham encontrado ocupação, mas porque a força de trabalho também cresceu bastante: 1,4% nos 12 meses até outubro, elevando em 0,3 ponto percentual a taxa de participação na força de trabalho. Isso significa que o número de desocupados também aumentou, chegando a 12,4 milhões de pessoas em outubro último.
O crescimento mais alto da população ocupada do que o do PIB indica que a produtividade por trabalhador caiu entre outubro do ano passado e o deste ano. No mercado de trabalho, isso se revelou pelo fato de a maioria das ocupações criadas terem sido informais. Assim, 57% das ocupações criadas foram de trabalhadores por conta própria e 17% de empregados do setor privado sem carteira assinada, exclusive trabalhadores domésticos, com altas de, respectivamente, 3,9% e 2,4%.
Também houve expansão no número de empregos formais. O total de empregados do setor privado com carteira, não contando empregados domésticos, aumentou 1%, respondendo por 21% das ocupações criadas. Ao todo, foram 343 mil pessoas a mais nessa situação. O Caged, publicado pelo Ministério da Economia, mostra um resultado ainda mais positivo: saldo líquido de 492 mil vagas com carteira criadas nos últimos 12 meses, contra 356 mil um ano antes.
O fato de a expansão da população ocupada ter sido puxada por trabalhadores informais não impediu uma alta de 0,8% no rendimento médio real habitual dos trabalhadores ocupados. Trata-se de resultado positivo, ainda que abaixo da média dos dois anos anteriores (1,5%).
Com a população ocupada e o rendimento médio em alta, a massa salarial real também cresceu: 2,6% nos 12 meses até outubro. A alta estimulou a expansão do crédito às famílias e, juntos, esses dois fatores levaram à alta de 2% no consumo das famílias em 2019, segundo projeção do BC, bem à frente do PIB, portanto.
As projeções do Ibre/FGV apontam para a continuidade desse processo de gradual recuperação do mercado de trabalho em 2020. Em especial, prevê-se que, na média do ano, a população ocupada cresça 1,4%, contra uma alta de 1,1% na força de trabalho. Isso reduzirá em 0,3 pp a taxa de desocupação, que na média do ano será de 11,7%. Portanto, um patamar ainda bastante elevado.
A boa notícia é que o mercado formal deve responder por uma parcela maior das ocupações criadas. Isso deve permitir uma alta um pouco maior do rendimento médio do que neste ano. Ainda assim, a previsão do Ibre é de que a massa salarial real aumente apenas 2,2% em 2020, em linha com o observado este ano (2,3%).
Isso pode parecer surpreendente, considerando que se projeta uma alta de 2,3% do PIB em 2020, quase o dobro deste ano. Não é difícil explicar por que a aceleração do PIB será insuficiente para gerar uma dinâmica do mercado de trabalho muito distinta da deste ano.
Como em 2019 o PIB cresceu mais no segundo do que no primeiro semestre, 2020 começará com significativo carregamento estatístico. Assim, mesmo que o PIB permanecesse o ano todo parado no nível do último trimestre deste ano, na média, cresceria 1,1%. De fato, para o PIB crescer 2,3% em 2020, o ritmo de expansão entre trimestres precisará desacelerar em relação a 2019.
Isso significa que, em 2020, o desemprego permanecerá elevado, mantendo-se um fato central da economia, o que é ruim do ponto de vista social, mas também do nosso potencial de crescimento a longo prazo. Isso pois pessoas que permanecem desempregadas por muito tempo se tornam menos produtivas e têm dificuldade de se reinserir no mercado de trabalho.
*Coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV)