Opinião

Artigo: Brasil e Argentina em busca do crescimento

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 25/12/2019 04:05
Vivemos momentos de expectativa na relação com a Argentina quando, há poucos dias, se iniciou o novo governo. O Acordo Mercosul, debatido por mais de 20 anos, foi finalmente assinado, e tem Brasil e Argentina como principais protagonistas. Porém, ambos enfrentam particularidades e desafios.

O Brasil está numa fase importante de aprovação de reformas econômicas sob o comando do presidente Jair Bolsonaro. Mas a caminhada continua firme no enfrentamento do desemprego e na busca da retomada dos investimentos público e privado para fazer o país crescer.

Já no caso da Argentina, os desafios são maiores. O país vizinho fechará o ano com inflação acumulada acima de 50% e índices de pobreza que chegam a 40%, além do deficit primário de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Seguramente, como indicam os economistas, é a pior crise econômica desde 2001, quando o país decretou a moratória da dívida.

Contudo, não podemos perder de vista que estamos falando da primeira e da terceira maiores economias da América Latina e de integrantes do Brics e do G20, o que nos leva a uma análise mais cuidadosa sobre a importância das relações comerciais entre os dois parceiros.

De janeiro a novembro deste ano, o Brasil exportou US$ 9 bilhões para o país vizinho, uma queda de 36,6% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). Já as importações brasileiras somaram US$ 9,6 bilhões, registrando saldo negativo de US$ 641,9 milhões no mesmo período. Desde 2003, este será o primeiro ano que a balança comercial fechará no vermelho para o Brasil.

Apesar de altos e baixos, desde a criação do Mercosul, em 1991, as indústrias dos dois países se comportam de forma integrada. Estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) mostra que 58% de tudo que o Brasil comercializa para a Argentina são bens intermediários.

Com relação às exportações brasileiras do agronegócio para o Mercosul, houve ligeiro crescimento, passando de 2,6% de participação em novembro de 2018 para 3,1% em novembro deste ano, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Entre janeiro e novembro de 2019, as exportações brasileiras do agronegócio somaram US$ 89,3 bilhões, o que representou queda de 3,7% em relação ao mesmo período do ano anterior.

As importações do setor alcançaram a cifra de US$ 12,6 bilhões, ou seja, 2,7% inferiores a 2018. Como resultado, o saldo da balança comercial do agronegócio foi superavitário em US$ 76,8 bilhões, porém, menor do que os US$ 79,9 bilhões que haviam sido registrados no acumulado janeiro-novembro em 2018.

Nos contextos do agronegócio, da agricultura familiar, do cooperativismo, da sanidade agropecuária e da pesquisa agrícola, temos interesses comuns no Mercosul. Brasil e Argentina estão juntos no Conselho Agropecuário do Sul (CAS), na Rede da Agricultura Familiar (Reaf), na Reunião das Cooperativas do Mercosul (Recm), no Programa de Fortalecimento da Pesquisa do Mercosul, entre outros.

O fato é que os dois países têm objetivos em comum e necessidades mútuas. É nesse campo que organismos como o Instituto Internacional de Cooperação Agrícola (Iica) desempenham papel fundamental no aprofundamento da cooperação técnica, não só entre os dois vizinhos, mas entre os integrantes da América Latina e Caribe.

O Iica ocupa a secretaria executiva do CAS e também a secretaria executiva do Programa de Integração da Pesquisa Agrícola do Cone Sul (Procisur), e tem como principal atribuição colaborar para uma agropecuária inclusiva, competitiva e sustentável. Como organismo internacional, o Iica auxilia na cooperação técnica entre países, facilitando suas ações operativas. O instituto é a Casa da Agricultura das Américas e está pronto para servir a governos e a sociedades nesse setor.

No discurso de posse, o presidente Alberto Fernández fez questão de nominar o Brasil e anunciou a intenção ;de construir uma agenda ambiciosa, inovadora e criativa; e fortalecimento do Mercosul. Precisamos aproveitar a vontade política para fortalecer e qualificar nossas relações comerciais.

O Brasil é o principal destino dos produtos argentinos e a Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil. Logo, a crise de um impacta a economia do outro. Exemplo é a indústria automobilística brasileira, que vende 70% da produção para a Argentina.

As relações entre Argentina e Brasil são históricas e grandiosas, envolvendo diversos setores. Embora complexa, tem mais de dois séculos e envolve 63% da área total da América Latina e 60% da sua população. Além de torcer pela recuperação do vizinho, é preciso apostar, como nunca, na irmandade histórica dos povos, como disse o presidente da Argentina, e no fomento de alianças benéficas para ambos os países.

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