postado em 27/12/2019 04:14
A Adasa vem monitorando as chuvas em todo o Distrito Federal, e os dados demonstram que os valores observados nos primeiros três meses do período chuvoso, que historicamente se inicia em setembro, estão muito abaixo da média. De setembro a novembro, algumas áreas do DF registraram volume de chuva 60% abaixo da média histórica. Nas bacias que vertem para os principais reservatórios utilizados para o abastecimento de água da população (reservatórios do Descoberto, Santa Maria e Paranoá), o total é de aproximadamente 50% da média. Mas o que significam esses dados?
O atraso no início do período chuvoso faz com que o nível do lençol freático (água armazenada no solo) siga rebaixando por mais tempo do que o normal e, se não houver recuperação das perdas nos meses subsequentes, com chuvas acima da média, isso pode gerar redução de vazões no período seco do ano seguinte. Mas é importante ressaltar que a recuperação da água armazenada no subsolo não depende apenas da quantidade da chuva, mas também da forma como chove. Chuvas mais intensas geram escoamento sobre o solo, resultando em menor infiltração da água em relação ao total precipitado.
Mesmo com o atraso no início da chuva, a situação dos reservatórios ainda não remete à preocupação maior em relação ao risco de desabastecimento nas regiões que recebem as águas. Isso é resultado do aumento da resiliência e da segurança hídrica no Distrito Federal em razão de melhorias na gestão dos recursos hídricos e na infraestrutura do setor, no campo e na cidade, importantes legados do período de crise hídrica vivido na região entre 2016 e 2018.
Por seu lado, dependendo de como vierem as chuvas nos próximos meses, regiões que não estão conectadas aos reservatórios e ainda dependem de captações diretas em córregos e rios, geram preocupações. Algumas delas, como as de Sobradinho e Planaltina, ainda passaram por cortes no abastecimento urbano e rural em 2019, após o período da crise hídrica, e a inquietação continua para o período seco de 2020. Medidas vêm sendo tomadas para minimizar os riscos.
A Caesb, por exemplo, vem ampliando a transferência de água do sistema Paranoá para a região de Sobradinho e Planaltina, mas as vazões incrementais previstas para os próximos três anos ainda são insuficientes para eliminar os riscos por completo. No meio rural, Adasa, Caesb, Seagri, Emater, comitês de bacia e produtores estão atuando em conjunto para finalizar a reforma do Canal Santos Dumont, outra obra que trará importante contribuição para o aumento da oferta hídrica na bacia do ribeirão Pipiripau.
Além dos investimentos em infraestrutura, a Adasa e a Agência Nacional de Águas (ANA) negociam, há anos, regras que ditam como a água deve ser distribuída, caso não seja suficiente para atender a todos da região. Dessa forma, a Caesb está ciente de que, se as vazões no ribeirão Pipiripau não forem suficientes para abastecer a todos os usuários, assim como os demais, terá que reduzir as captações de água. Esse é um sinal claro da necessidade de a Caesb acelerar as obras de interligação dos sistemas de abastecimento ou buscar, em tempo, outra solução que aumente a oferta de água na região.
Outras áreas, como as bacias dos rios Jardim e Extrema, na parte leste do DF, onde é intenso o uso da água para irrigação, também têm convivido com o processo de alocação negociada da água em períodos secos. As vazões verificadas têm sido menores que a média nos últimos anos e, como também não existem reservatórios de regularização na região, permanecem como alvo de preocupação para o próximo ano.
Nesse contexto, cerca de 15% da população vive em áreas que podem sofrer restrições de acesso à água em determinados momentos da próxima estação de seca, em 2020. É importante ressaltar que grande parte dessas áreas já vêm convivendo com essas dificuldades em razão da redução das chuvas e vazões nos últimos anos, mas que podem ser agravadas por causa do atraso no início do período chuvoso em curso, a depender das chuvas dos próximos meses.
É fundamental, portanto, que a população fique bem informada sobre as ações que estão sendo tomadas para minimizar tais riscos, como a melhoria no monitoramento e na gestão dos recursos hídricos, na implementação e aprimoramento de obras hídricas e na comunicação e integração com a sociedade. A boa gestão da água é um desafio de todos.