Opinião

A crise de aprendizagem requer nova abordagem

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 29/12/2019 04:14


Para a maioria das crianças, 10 anos é um momento emocionante. Elas estão aprendendo mais sobre o mundo e expandindo os horizontes. No entanto, muitas delas ; mais da metade das crianças com 10 anos de países de baixa e média renda ; não conseguem ler e entender uma história simples. Estamos no meio de uma crise de aprendizagem global que reprime oportunidades e aspirações de centenas de milhões de infantes. Isso é inaceitável.

Em outubro, divulgamos dados para apoiar nova meta de aprendizagem: até 2030, queremos reduzir, pelo menos pela metade, o nível global de pobreza de aprendizagem. Ler é habilidade especialmente crítica: abre-se um mundo de possibilidades, e é a base sobre a qual outras aprendizagens essenciais são construídas, incluindo aritmética e ciências. Acabar com a pobreza de aprendizagem ; definida como a percentagem de crianças que não conseguem ler e entender uma história simples aos 10 anos ; é questão urgente, crucial para eliminar a pobreza em geral e impulsionar a prosperidade compartilhada. É fundamental para ajudar as crianças a atingirem seu potencial.

Mas, nos últimos anos, o progresso na redução da pobreza de aprendizagem ficou estagnado. Globalmente, entre 2000 e 2017, houve apenas uma melhoria de 10% nos resultados para crianças em idade escolar primária. Se esse ritmo continuar, 43% das crianças de 10 anos não saberão ler em 2030. Enquanto alguns países registraram avanços ao longo dos anos, há discrepâncias significativas entre os de baixa e alta renda, e regionalmente entre países. A pobreza de aprendizado é crise global, e a América Latina não é exceção. Pouco mais que a metade das crianças da região não é capaz de ler ou entender um texto simples aos 10 anos de idade.

A boa notícia é que as crianças que completarão 10 anos em 2030 nascerão no próximo ano. Se trabalharmos com urgência, há uma oportunidade para inverter a tendência. A meta é ambiciosa, mas alcançável ; e deve encorajar a ação para alcançar o ODS 4 ; garantindo educação de qualidade para todos. Será necessário quase triplicar a taxa de progresso em todo o mundo, o que pode ser feito se os países puderem igualar o desempenho dos que mais avançaram entre 2000 e 2015.

Os desafios serão diferentes entre países e regiões. Em alguns, o acesso à escola continua a ser enorme problema ; 258 milhões de jovens estavam fora da escola em todo o mundo em 2018. Em outros, as crianças estão em salas de aula, mas não estão aprendendo. Ao estabelecer uma meta global, o Banco Mundial pode trabalhar com os países para definir os objetivos nacionais. Reduzir a pobreza de aprendizagem pela metade até 2030 é apenas um objetivo intermediário. Nossa ambição é trabalhar com governos e parceiros de desenvolvimento para chegar a zero.

Como o maior financiador da educação em Estados de renda baixa e média, o Banco Mundial trabalhará com os países para promover a proficiência em leitura nas escolas primárias. As políticas incluem a prestação de orientações detalhadas e formação prática para os professores, a garantia de acesso a textos melhores e mais adequados à idade, e o ensino das crianças na língua que utilizam em casa.

O Banco Mundial também está atuando com governos e parceiros de desenvolvimento para melhorar todo o sistema educacional, a fim de que os avanços na alfabetização possam ser sustentados e ampliados. Significa garantir que as crianças venham à escola preparadas e motivadas para aprender; que os professores sejam eficazes e valorizados e tenham acesso à tecnologia; salas de aula ofereçam um espaço bem equipado para a aprendizagem; as escolas sejam seguras e inclusivas; e os sistemas de ensino sejam bem administrados.

Uma ambiciosa agenda de medição e pesquisa apoia esses esforços e inclui a medição dos resultados de aprendizagem e seus condutores, pesquisa e inovação contínuas e o uso inteligente de novas tecnologias sobre como construir competências básicas.

A crise de aprendizagem não só desperdiça o potencial das crianças, como prejudica economias inteiras. Terá impacto negativo na futura força de trabalho e na competitividade econômica. O Índice de Capital Humano do Banco Mundial mostra que, globalmente, espera-se que a produtividade da criança média nascida hoje seja de apenas 56% do que seria se os países investissem o suficiente em saúde e educação.

Eliminar a pobreza de aprendizagem deve ser prioridade, assim como acabar com a fome e a pobreza extrema. Não será fácil, mas não podemos desistir do desafio. Devemos isso às crianças de todo o mundo: estabelecer metas arrojadas, para que elas também possam alcançar objetivos desafiadores.



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