Correio Braziliense
postado em 02/01/2020 04:04
O filósofo Marshall McLuhan ensinou, há mais de 50 anos, que o meio é a mensagem. Não somente o “meio” como sinônimo de vetor, de veículo, mas também de palavras e gestos. É inegável o prejuízo de uma expressão equivocada. Quando se fala de comunicação, clareza é fundamental para que mensagem e meio sejam uma coisa só, e o entendimento exatamente aquele que se pretende.
Não faltaram críticas ao presidente Jair Bolsonaro e a alguns de seus ministros nessa seara. Consideram que foi a parte péssima do primeiro ano de governo. Há, porém, que se observar que ele não errou na mensagem que pretendeu passar, nem nos meios que utilizou para tal. Isso porque talvez não fosse para mim ou para você, que guardamos postura desapaixonada e equidistante.
Para quem o respalda incondicionalmente, Bolsonaro é exatamente o que esperavam que fosse. Vale lembrar que esses apoiadores até estavam preocupados com a tragédia econômica legada pelo PT, de desemprego ladeira acima e paralisia na produção, mas, certamente, não foi o que os moveu na direção do hoje presidente. O que os incomodava eram os supostos ativismo ecológico, avanço da ideologia de gênero, criminalização da atividade policial, esquerdização da academia — entre outros fatores sociais que estariam, para esses eleitores, aprisionados pelos movimentos ligados ao ex-presidente Lula.
A febre de mais de 40 graus levou a delírios até mesmo com uma ameaça comunista, como se o sistema brasileiro de freios e contrapesos institucionais não mais funcionasse, e caminhássemos a passos gigantes para reviver, em nosso solo, a estupidez soviética.
Para quem vê tais riscos, Bolsonaro é o homem certo, no momento exato. Portanto, sua mensagem — aqui incluo seus filhos, que emulam o raciocínio paterno — é precisa e cuidada, ainda que repetitiva e pouco elaborada. Reparem que temas como AI-5 e fechamento do Supremo Tribunal Federal não partiram de conversas do presidente. Apesar de não terem sido, não são menos chocantes, porque espelham claramente o que o patriarca pensa.
Assim, Bolsonaro não errou nem mesmo quando comprou briga com a imprensa e favoreceu veículos que lhe são simpáticos. (Registre-se que isso não é novidade, pois em recentes anos também houve a lista de queridos do Palácio do Planalto, aquinhoados com fartura de recursos públicos para se manterem como porta-vozes informais do PT.) Os reacionários (não são conservadores, que por definição é outra coisa) têm horror às liberdades, sobretudo a de opinião e de crítica.
Para frente, e até o final do governo, não acreditem que Bolsonaro e seus satélites mudarão a forma de tratar a comunicação. Continuarão histriônicos, provocativos, tratando infantilmente assuntos sérios. Nisso, por sinal, também não são inéditos. A mobilização da claque é a melhor maneira de fazer a ideia percorrer e penetrar.
Bolsonaro pode jamais ter escutado falar de McLuhan. Mas, pela intuição política e pelo cálculo eleitoral, faz exatamente aquilo que o acadêmico canadense preconizou. Bolsonaro conhece o meio e a mensagem.
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