Correio Braziliense
postado em 04/01/2020 04:05
Momento exige bom sensoO aumento da tensão no Oriente Médio, com a morte do general e comandante da Guarda Revolucionária do Irã, Qassim Suleimani, pelos Estados Unidos, veio em péssima hora, pois pode minar a recuperação da economia global. Até bem pouco tempo, o fantasma da recessão pairava sobre os principais países do mundo, cujos indicadores mais recentes mostraram uma força inesperada da atividade. Se uma guerra explodir na região que agrega os maiores produtores de petróleo do planeta, o crescimento econômico será travado pela alta dos combustíveis, com péssimas consequências para todos.
Muitas são as previsões sobre o que pode ocorrer diante do confronto entre os Estados Unidos e o Irã. Até agora, o diálogo belicoso entre os dois países era visto com ressalvas, mas sem grande preocupações. Daqui por diante, no entanto, tudo está em aberto. Sabe-se que o governo iraniano e seus aliados não ficarão inertes ante o assassinato de um líder que é visto pelo mundo com o arquiteto da campanha ativa de décadas da República Islâmica contra os Estados Unidos e seus parceiros, sobretudo Israel. Em pronunciamento, o presidente norte-americano, Donald Trump, disse que seu governo matou o general iraniano para terminar uma guerra e não para começar outra. São muitas as dúvidas em relação a isso.
A grande pergunta que se faz em Brasília, diante desse quadro de sobressalto, é qual posição o governo brasileiro tomará. Tradicionalmente, a diplomacia do país sempre optou por uma postura neutra, mas de defesa da paz. Com Jair Bolsonaro na Presidência da República, há dúvidas quanto à manutenção desse quadro de sobriedade. Sabe-se da forte ligação que ele tem com Trump e da inclinação para apoiar os ataques que a maior potência bélica do planeta venha a fazer. Integrantes do Palácio do Planalto que ainda ostentam bom senso tentam convencer o chefe a manter prudência em suas declarações.
O Oriente Médio é um campo minado, mas, para lá, segue boa parte das exportações brasileiras. Num mundo que cresce menos, abrir mão de mercados importantes é um risco enorme. Já vimos que o saldo da balança comercial do Brasil registrou o pior resultado desde 2015. Se as vendas dos nossos produtos diminuírem ainda mais, a consequência será o aumento do dólar e, por tabela, da inflação. Isso tudo em meio à arrancada dos preços do petróleo. Portanto, quanto menos o Brasil se meter nessa confusão, tomando partido, menores serão os riscos para a economia nacional.
O papel do Brasil nesse momento deve ser o de conciliador. Foi assim que sempre o país se destacou na diplomacia internacional. Deixar-se levar pela ideologia e pela subserviência só resultará em prejuízos. Antes de se meter em um conflito sobre o qual ninguém hoje é capaz de dizer onde vai parar, o governo brasileiro deve se precaver e olhar para nossos interesses. Já há gasolina demais no fogo que consome o Oriente Médio e perturba o mundo.
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