Opinião

Artigo: Inovações na mobilidade urbana

Correio Braziliense
postado em 06/01/2020 04:13
Com a experiência de 55 anos vividos em Brasília, considero como prioridade melhorar a mobilidade urbana, que é condição para a melhoria também da saúde, da educação, da segurança, do lazer e do bem-estar dos cidadãos.

O projeto é retirar pelo menos um terço da frota de 1,7 milhão de carros de Brasília, que estão tornando o trânsito tortura a ser enfrentada diariamente pela população. O transporte individual motorizado, além de insustentável, contribui para a poluição do ar.

Primeiro, conceder isenção em torno de 50 % no IPVA para quem praticar a carona solidária para parentes, vizinhos, amigos ou colegas de trabalho, não para estranhos. Tome-se o exemplo de um morador de apartamento de Águas Claras, cujo trânsito está insuportável a ponto de desvalorizar os imóveis.

O morador do apartamento de cima é amigo, conhecido ou pelo menos vizinho. Os dois trabalham no mesmo local. Vão em dois carros. É o que ocorre atualmente. A carona solidária, além de proporcionar economia de combustível, óleo, pneu, aumenta a amizade e a sociabilidade.

Em segundo lugar, deve-se melhorar o transporte coletivo, gerando confiança da população no ônibus, metrô ou Uber, Cabify e 99, em que um só veículo atende a várias pessoas, dispensando os carros individuais. Em muitos países da Europa e nos Estados Unidos, vai-se para o trabalho de transporte coletivo. O carro individual só é usado à noite ou aos fins de semana para passeios.

Essas sugestões estão de acordo com o especialista norte-americano Peter Furth, professor de engenharia civil da Northeastern University de Boston e PHD pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets, que esteve em Brasília, onde andou de bicicleta e criticou o problema da nossa mobilidade urbana. Ele defende a tese de que, nas grandes cidades, deve se utilizar o método ABC, que se resume a “tudo menos carros”.

O Estado precisa priorizar o transporte público de qualidade e não o individual. Devemos adotar o metrô de superfície (VLT), ampliar as linhas do metrô, trens de superfície e ciclovias.

Outra iniciativa é votar uma lei distrital permitindo que as motocicletas transitem pelas faixas exclusivas para ônibus, ambulâncias, veículos da PMDF, Corpo de Bombeiros e Polícia Civil e vans escolares. Atualmente, segundo pesquisas divulgadas, as faixas só têm 5% de uso, ficando, portanto, 95 % do tempo ociosas.

Com isso, se evitarão acidentes que ocorrem com as motos que circulam entre as faixas, entre duas filas de veículos. Qualquer movimento dos carros para fora das faixas provoca acidentes com motociclistas, que são a maioria no DF.

Nós, moradores de Brasília, devemos nos conscientizar de que a cidade nasceu sob o signo da modernidade. Temos que preservar sua beleza e sua dignidade paisagística, urbanística e arquitetônica, como a idealizaram os fundadores.

Outra instituição que está cometendo verdadeiro sacrilégio contra Brasília é o Sinduscon – Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF. Não ele próprio, mas os integrantes, as construtoras, que estão agredindo a cidade ao instalar letreiros em cima dos prédios ou nas paredes de frente com o nome das construtoras. Trata-se de falsa propaganda, que gera antipatia.

Também o Governo do Distrito Federal não tem sido capaz de impedir a proliferação desenfreada de outdoors, back-lights, luminosos e placas de propaganda que têm sido colocados em qualquer lugar, com pouco critério. Existe legislação que regulamenta o assunto, exigindo distanciamento entre um e outro, mas não está sendo obedecida.

Sugerimos ao GDF criar uma comissão distrital de sinalização visual, que reúna os órgãos que podem fiscalizar a área e representantes da sociedade civil, com a participação de arquitetos, urbanistas e publicitários, para disciplinar as intervenções que afetem o patrimônio urbanístico, paisagístico e arquitetônico de Brasília.

A cidade pode até ter outdoors, instrumento de propaganda clássico no mundo capitalista, embora seja intervenção perversa na natureza, contaminando a paisagem. Mas, em nome de um bem maior, que é o patrimônio do Distrito Federal, deve ser infinitamente mais rígida e sob critérios mais exigentes de qualquer outra cidade do mundo. Por quê? Porque, ao inscrever Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade, a Unesco usou como justificativa o fato de Brasília ser um fator maior na história do urbanismo mundial.

Brasília deve passar por uma limpeza visual que a preserve, para que possa ser fotografada sem que apareçam as placas em cima ou na fachada dos prédios. Também tem que aumentar a fiscalização sobre os trailers e quiosques nas áreas públicas, hoje proliferando de forma explosiva. Sei que o desemprego responde por isso, mas há que haver coerência na expansão.

A preservação da cidade limpa, despojada visualmente, como a queriam seus idealizadores Lucio Costa e Oscar Niemeyer, vai propiciar a fama de Brasília como cidade ímpar, atípica, diferente de todas as outras do mundo. Essa marca cria mais empregos, atrai mais turistas, gera mais divisas do que a poluição visual urbana.

O governador Ibaneis Rocha tem o desafio de desatar os nós da mobilidade urbana, aumentando a capacidade, a rapidez e a comodidade do transporte público para atrair novos usuários. As pessoas precisam preferir o transporte público ao individual, mas, para isso, muitas e profundas mudanças têm de ser feitas, com trens, metrôs, veículos leves sobre trilhos, ônibus, vans para todos os lados, rápidos e cômodos.

*Jornalista e advogado

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