Correio Braziliense
postado em 07/01/2020 04:35
No último domingo, o cineasta sul-coreano Bong Joon Ho levantou uma reflexão importante durante a cerimônia de premiação do Globo de Ouro, em Los Angeles. Vencedor da estatueta de melhor filme estrangeiro pelo longa-metragem Parasita, o diretor subiu ao palco, ao lado de uma intérprete, e proferiu um discurso curto e direto, em coreano, sobre como ampliar a diversidade dentro do cenário do audiovisual: “Quando vocês ultrapassarem apenas alguns centímetros da barreira das legendas, vocês descobrirão tantos filmes incríveis”.
Bong Joon Ho fazia uma crítica, principalmente, aos Estados Unidos, país conhecido por ter uma população que recusa a legenda nos materiais audiovisuais, por isso, costuma consumir menos produtos de língua não inglesa. O que resulta na constante versão da indústria hollywoodiana para tramas de sucessos estrangeiros. Godzilla, O grito, O chamado, Dança comigo?, Sempre ao seu lado e A casa do lago são alguns exemplos de blockbusters americanos que são remakes de sucessos asiáticos. Os EUA também refizeram produções de diferentes localidades do mundo, e não só no cinema. Basta lembrar das séries israelenses que deram origem à Homeland e In treatment, só para citar duas mais conhecidas do grande público.
Quando o cineasta pede que as barreiras das legendas sejam derrubadas, o coreano clama pela entrada das produções na forma original, com a língua de origem, independentemente do idioma, do dialeto e do sotaque. Só assim realmente é possível conseguir uma diversidade. No olhar, na cultura, nas vozes, dando espaço a artistas e produções de fora da bolha norte-americana — ou ainda, inglesa, que também consegue ultrapassar por conta da proximidade da língua.
Essa é uma questão também para ser pensada no Brasil. Até pouco tempo atrás, o público tinha uma resistência a produções em espanhol. A popularização aconteceu recentemente quando a Netflix passou a incluir no catálogo e sugerir para os brasileiros os conteúdos na língua. Elite, La casa de papel, Merlí, As telefonistas e Ingobernable são alguns dos hits da plataforma de streaming que ficaram populares no país. E o Brasil não abriu espaço apenas para os compatriotas latinos, mas também para os países da Europa que falam línguas diferentes do espanhol e do português, que viram suas produções irem bem com o público brasileiro, a exemplo de atrações como Dark (Alemanha), The rain (Dinamarca), Tabula rasa (Holanda) e Eu não sou um homem fácil (França).
Depois da fala do cineasta, parei para pensar na minha relação com as produções estrangeiras. Realmente não vejo muitas. Mas, nos últimos anos, e até na última semana especificamente me vi ouvindo outras línguas, graças ao audiovisual. Primeiro em Dois papas, de Fernando Meirelles, onde três idiomas se misturam de forma muito bonita e que agregam a história: o latim, o italiano e o inglês. Depois em outra atração da Netflix que passei a maratonar: Messiah sobre um possível messias no mundo, em que o árabe é o idioma mais falado na trama, apesar de dividir espaço com o inglês. Anos antes inclui o espanhol, primeiramente com La otra mirada, série da Espanha que retrata um grupo de mulheres que luta pela educação nos anos 1920.
Essa aproximação com outras línguas, só agrega. Acostuma o ouvido a outros idiomas e, mais do que isso, abre a porta para o entendimento e conhecimento de outras culturas. Para que, assim, as tais empatias e diversidades, que tanto falamos, possam de fato serem concretizadas.
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