Opinião

Artigo: 2020 - nova cátedra para o Brasil

Para comemorar 10 anos de existência, o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), polo Ribeirão Preto, constituiu a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira. Reconheceu, assim, um dos mais importantes pesquisadores brasileiros, com notáveis contribuições ao desenvolvimento de novos medicamentos no combate à hipertensão e na elucidação do mecanismo de ação de substâncias analgésicas anti-inflamatórias, do tipo aspirina. Pelos estudos, Ferreira recebeu vários prêmios internacionais, entre eles o Prêmio Ciba Award for Hypertension Research, outorgado pela American Heart Association. Em 1990, a Sociedade de Hipertensão da Noruega instituiu o Prêmio Ferreira Award, para os pesquisadores cujas pesquisas sobressaíssem na área de hipertensão.

A cátedra tem como objetivo contribuir para melhorar efetivamente a qualidade das políticas públicas em cidades de médio porte. Nos dois primeiros anos de atuação, o foco será na educação básica — da educação infantil ao ensino médio. Para escolher o titular da cátedra, o IEA constituiu um comitê de busca, e tive o privilégio de ser o escolhido, algo que muito me honrou, tanto pelo nome que carrega, pois sempre tive, desde jovem, quando atuava no campo da química molecular, profunda admiração pelo professor Sérgio Henrique Ferreira, quanto pelo desafio que se coloca de modelar estudos e pesquisas que possibilitem melhorar a qualidade do ensino público para cidades de médio porte, mediante forte trabalho de mobilização social.

Com base nos dados censitários demográficos de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem cerca de 250 cidades na condição de médio porte, ou seja, com população na faixa de 100 mil a 500 mil habitantes. Apesar de estar fora da faixa, o epicentro de nossos estudos será Ribeirão Preto, mas a ideia é constituir uma rede de cidades de médio porte com espírito colaborativo para trocar experiências exitosas na perspectiva de fazer avançar os indicadores da educação básica. Nesse sentido, a cátedra deverá constituir uma rede de parceiros pela educação, do setor público e privado, que estejam comprometidos com um Brasil mais justo e solidário, no qual a educação ocupe lugar de relevância.

Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2018 mostraram um Brasil estagnado no campo da educação e num patamar muito baixo de aprendizagem escolar, quando comparado aos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o que revela a decisão acertada do IEA de priorizar a educação básica para os dois primeiros anos de atuação da cátedra. Vai ser preciso muito esforço para tirar o país dessa situação. Mas é possível. Para isso, basta o Brasil querer aprender com o próprio Brasil, como vem mostrando, a título de exemplo, o estado do Ceará no campo da alfabetização de crianças aos sete anos de idade, e o estado de Pernambuco no ensino médio com as escolas de tempo integral com educação integral.

Para fazer a coisa certa na educação, o ponto de partida é ter coragem e vontade política para mudar. Isso significa trabalhar com base em evidências, usar de forma correta e adequada o dinheiro público e investir fortemente na formação de professores e gestores escolares com foco na aprendizagem dos estudantes. Além disso, é preciso mobilizar a sociedade em prol da causa, como faz o movimento Todos pela Educação, sempre na direção do que é relevante e tem mérito. Em Cingapura, país com alta performance educacional no Pisa, só importa o que tem relevância e mérito. Ribeirão Preto é uma cidade pujante economicamente e possui importantes ativos sociais. É o caso do Instituto Ribeirão 2030, sem esquecer o maior deles, a própria Universidade de São Paulo – a maior e mais prestigiosa universidade do Brasil.  Muito trabalho nos espera, mas estamos otimistas para dar essa contribuição em prol da educação pública brasileira.

*Titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP e membro do Conselho Nacional de Educação (CNE)