Opinião

Visão do Correio: Com inflação não se brinca

Correio Braziliense
postado em 11/01/2020 04:04
A inflação teve alta de 1,15% em dezembro. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2019 em 4,31%, acima do centro da meta fixada pelo Banco Central (BC) em 4,25%. A alta observada mostra que muitos fatores estão fora de controle do governo, como o preço da carne que teve alta de 32,40%, apontada com a vilã desse resultado. Qualquer choque pode levar a inflação para cima. A ameaça mais concreta agora é o preço dos combustíveis, caso o conflito entre os Estados Unidos e o Irã se agrave. O petróleo, como o produto bovino, tem cotação internacional — ambos são commodities.

Ao longo do ano passado, também contribuíram para o aumento da inflação os planos de saúde (aumento de 8,24%), devido ao reajuste autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), alimentação e bebidas (6,37%), habitação (3,9%), transportes (3,57%), saúde e cuidados pessoais (5,41%), educação (4,75%), entre outros itens dos grupos de despesa que compõem o IPCA.

Entre as regiões metropolitanas e capitais pesquisadas, Belém acumulou o maior índice de inflação (5,51%), também devido ao aumento do preço da carne, seguida por Fortaleza (5,01%), Campo Grande (4,65%), São Paulo (4,60%) e Goiânia (4,37%). A menor taxa foi em Vitóira (3,29%), em razão da queda na energia elétrica. Na sequência, vêm Recife (3,71%), Brasília (3,76%), Rio Branco (3,82%) e Salvador (3,93%).

Nos últimos três anos, o BC pôde fazer o dever de casa, cortando a taxa básica de juros (Selic), que chegou ao menor nível da história, 4,50% anuais. Daqui por diante, porém, o quadro pede cautela. Qualquer erro de manejo do BC pode resultar em mais inflação. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para fevereiro. O mercado admite que a Selic ficará onde está.

Os juros nos menores níveis da história ajudaram muito na reação da economia desde o segundo semestre do ano passado. Mas, se subirem, passarão a jogar contra a atividade. Juros baixos incentivam o consumo e os investimentos produtivos. Contribuem para a roda da economia a girar.

Por causa da inflação de dezembro e do fechamento do ano, alguns analistas falam em aumento dos juros neste ano, para 5% ou 5,5% anuais. Ainda são taxas baixas, que estimulam a atividade. Mas é bom que parem por aí, afinal, a reativação da economia ainda não é tão forte quanto se chegou a alardear.

Tanto que a produção industrial de novembro caiu 1,2%, muito acima do esperado pelo mercado. Se os juros subirem demais, por causa de uma inflação mais alta, o otimismo que hoje reina no país vai se dissipar. Certamente, não é o que ninguém quer. O Brasil precisa voltar a crescer com força e por um longo período, para que o emprego retorne e o exército de mais de 12 milhões de pessoas sem trabalho possa ter oportunidades e obter fontes de sustento para suas famílias.


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