Fez muito bem o presidente Jair Bolsonaro em demitir, rapidamente, Roberto Alvim da Secretaria Nacional de Cultura. As inaceitáveis declarações do agora ex-secretário, repetindo um discurso de Joseph Goebbels, responsável pela propaganda do nazismo de Adolf Hitler, provocaram repúdio no país e no exterior. Mesmo aliados de primeira hora do governo condenaram a fala do dramaturgo, que tinha como meta implantar uma cultura “nacionalista, imperialista e heroica”, movimento muito semelhante ao observado num dos períodos mais sombrios da humanidade.
Num país tão diverso quanto o Brasil, com tantas manifestações artísticas, não há espaço para direcionamentos, para políticas que tentam impor pensamento único e calar vozes contrárias. Não por acaso, a reação da sociedade foi veemente. Abrir espaço para qualquer movimento totalitário, fundamentalista, que remontem ao que há de pior na história, é um risco enorme. O que está em jogo, quando pessoas como Alvim ganham relevância na cena política, é a liberdade, que custou tão caro aos brasileiros depois de mais de duas décadas de sangrenta ditadura.
Em sua defesa, Alvim afirmou que a semelhança entre seu discurso e os de Goebbels não passou de “coincidência retórica”. Mas quem assiste ao vídeo no qual o ex-secretário lança o Prêmio Nacional de Artes se depara com uma clara peça de propaganda para cooptar corações e mentes. As falas do dramaturgo têm como trilha sonora a ópera Lohengrin, do compositor alemão Richard Wagner, o preferido do Hitler. Não há dúvidas do gosto de Alvim por um regime que matou mais de 6 milhões de judeus. Na Alemanha de hoje, ele seria preso.
Apesar de abominável, o episódio envolvendo Alvim serve de alerta para a sociedade, que não pode se curvar a ações que visem suprimir direitos. Aqueles que se vendem como salvadores da pátria não respeitam o contraditório, perseguem a imprensa combativa e se apresentam como donos absolutos da verdade. Foi em ambientes como esses que proliferaram ditaduras de esquerda e de direita, com a grande maioria da população sem poder se expressar. Pior, vendo uma elite privilegiada ter acesso a tudo e a maioria se contentando com o resto.
O Brasil vem sendo colocado à prova há algum tempo. Mas, felizmente, nossa jovem democracia tem resistido a todos os ataques. Não serão adoradores do nazismo que tirarão o país do rumo. Temos uma imprensa forte, que sabe muito bem o seu papel. O Congresso, como expressaram os presidentes da Câmara e do Senado diante do arroubo fundamentalista de Alvim, não permitirá retrocessos. E o Supremo Tribunal Federal (STF) está pronto para conter qualquer ameaça à Constituição. Mas é sempre bom ficar atento. O autoritarismo está à espreita. E não brinca em serviço.
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