Opinião

É preciso interromper a privatização da Petrobras

Correio Braziliense
postado em 20/01/2020 04:14
Sete em cada 10 brasileiros são contrários à privatização de empresas públicas, apontou o Datafolha no fim de agosto do ano passado. Quando se trata da Petrobras, a maior companhia do país em valor de mercado, com mais de R$ 400 bilhões na Bolsa Brasil Balcão (B3), 65% posicionam-se contra a venda da empresa, e dois em cada três brasileiros defendem que a companhia deve ser controlada pelo governo. São nada menos que 140 milhões de pessoas. Entre empresários brasileiros, a resposta é a mesma: 59% são contra.

A voz da maioria, no entanto, não parece encontrar eco na atual gestão da companhia. Várias ações vêm fazendo com que a Petrobras perca sua liderança do poço ao posto no mercado brasileiro de petróleo. Essas ações iniciaram quando a Petrobras diminuiu a atividade de suas refinarias, reduzindo a produção de gasolina e óleo diesel no país, e adotou uma política de preços dos combustíveis alinhada ao mercado internacional, a partir de outubro de 2016. 

Entre janeiro e outubro de 2017, logo após a implementação da política de reajustes diários da Petrobras, o preço médio da gasolina subiu apenas 3,7%, e o do diesel, 2,5%, como aponta estudo do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep). O pequeno aumento se explica pela elevação de tributos federais e estaduais, uma vez que o preço do petróleo Brent se manteve estável nesse período, assim como o dólar.

No entanto, continua o Ineep, o cenário mudou significativamente em outubro de 2017. O preço do Brent subiu, fazendo com que a Petrobras e os importadores de combustíveis aumentassem significativamente o preço da gasolina e do diesel. Até maio de 2018, o preço médio da gasolina subiu 13,5%, e o do diesel, 17,6% — o que motivou a greve dos caminhoneiros que parou o país e obrigou o governo Temer a criar mecanismos para frear os reajustes constantes. 

Nesse contexto, em vez de rever a política e ampliar o refino, a Petrobras seguiu na direção oposta. Manteve o atrelamento ao mercado internacional e colocou na mesa a venda de oito de suas 15 refinarias. Além disso, vendeu o controle de sua distribuidora de combustíveis, a BR, a maior do país, com cerca de 30% do mercado. 

Historicamente, o controle do refino no Brasil pela Petrobras foi fundamental para manter uma política de preços dos combustíveis que não penalizasse o consumidor com o sobe e desce característico do mercado internacional de petróleo. Mesmo que se reconheça que isso reduziu (mas não reverteu) os ganhos da empresa, é inegável que o fato de a Petrobras ser uma companhia integrada, do poço ao posto, fez com que essa volatilidade não afetasse o dia a dia da população, uma vez que os preços dos fretes dos alimentos e das tarifas como as dos ônibus são indexados aos preços dos combustíveis e mexem com as taxas de inflação. Com a venda de sua distribuidora e de metade de seu parque de refino, é alto o risco de a Petrobras perder seu papel de reguladora por sua liderança atual nesse mercado. 

A empresa também perde seu papel de indutora de empregos e de desenvolvimento socioeconômico. A venda de oito refinarias põe em risco o emprego direto de quase 5 mil pessoas em sete estados brasileiros, cerca de 51% do total (9.628) de trabalhadores hoje em refinarias da Petrobras. Sem contar os empregos indiretos, as famílias dos trabalhadores e o impacto sobre as economias locais que giram em torno das refinarias da companhia.  

O modelo de gestão da Petrobras cria desemprego, aponta o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Entre 2013 e 2018, a Petrobras perdeu 22.747 profissionais: de 86.108 para 63.361. Foi a maior queda entre as grandes petroleiras do mundo, de 26,4%, um quadro técnico de excelência, formado pela própria Petrobras. No mesmo período, a francesa Total ampliou seu quadro de trabalhadores em 5,7%. Entre terceirizados, a queda foi ainda maior: quase 248 mil trabalhadores (67,8% do total). Somados, o número de trabalhadores da Petrobras que perderam seus empregos alcançou 270.565 pessoas. 

O fortalecimento da Petrobras é, portanto, uma legítima agenda da sociedade brasileira. É preciso interromper o processo de privatização da companhia — por partes e em doses homeopáticas — antes que a conta fique ainda mais alta para toda a população. A grave crise da nossa economia somente será revertida com desenvolvimento sustentado e inclusivo. Nesse sentido, é preciso fortalecer a Petrobras e seu papel de indutora do desenvolvimento do país.
 
 

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