Opinião

Para todos os tempos, um mestre de seu povo

Correio Braziliense
postado em 27/01/2020 04:34
Este ano, o Cazaquistão celebra o 175º aniversário de Abai Qunanbayuly, o nome mais ilustre da literatura cazaque. A abertura oficial da celebração ocorreu no dia 21 de janeiro na cidade de Nur-Sultan, no Teatro Astana Opera, com a participação das lideranças políticas e das maiores expressões artísticas e da literatura do país.

Abai, como é aclamado pela população, é, para o Cazaquistão, o que Camões é para Portugal e Brasil, Pushkin para a Rússia, e Shakespeare para a Inglaterra. O legado dos grandes poetas é de propriedade não apenas deles, mas também de todos os povos, de toda a humanidade.

Abai Qunanbayuly nasceu em 10 de agosto de 1845, na cidade de Semey, oriundo de uma família rica, pertencente à nobreza local. Abai recebeu a educação primária em casa, posteriormente tendo estudado em uma escola espiritual muçulmana, madraça, na qual eram ensinadas línguas orientais e, concomitantemente, em uma escola russa. Durante esse período, ele se familiarizou com os poetas e cientistas do oriente, com as obras de escritores russos e com a literatura da Europa Ocidental. Ao final de seu período de formação, Abai escreveu seus primeiros versos, inovou a poesia nacional, introduziu novas metrificações e rimas aos versos cazaques, escreveu 170 poemas e fez 56 traduções. 

O trabalho poético de Abai é inseparável de seus pontos de vista pedagógicos — suas criações são ricas em conteúdo, distinguem-se pela natureza problemática do assunto, nelas o autor nos apresenta seus pensamentos sobre o significado da vida, a felicidade humana, seus ideais morais. Em seu trabalho, ele se rebelou contra o atraso e a rotina na vida pública, ridicularizou e criticou as falhas humanas, saudou de todo o coração algo novo que ele próprio havia testemunhado, considerando a falta de aspirações como um dos vícios do homem.

Em seu famoso trabalho O livro das palavras, composto por 45 breves parábolas e tratados filosóficos, o poeta levanta os problemas da educação e das perspectivas nacionais, critica as deficiências e desvantagens das pessoas, exorta os cazaques a esclarecimento e à unidade, observando a importância da unidade. O poeta protestou contra conflitos étnicos, observando as vantagens e características de cada nação individualmente. Ele votou pela educação das mulheres cazaques, incentivou os jovens a aprenderem, dominarem a ciência, vários novos ofícios, aconselhou a trabalharem honestamente para o bem da sociedade. Abai atribuía especial importância à família no processo de formação dos jovens, observando que os pais são os educadores mais importantes.

Como parte da comemoração do aniversário de Abai em São Paulo, em março deste ano, está prevista a apresentação da obra O livro das palavras, que será a primeira traduzida do poeta cazaque em português. O livro aumentará a conscientização sobre o Cazaquistão e apresentará ao público brasileiro o tesouro literário da Ásia Central.

A tradução de O livro das palavras para o português foi realizada por um talentoso especialista Edélcio Américo, doutor em ciências filológicas no Departamento de Letras Orientais da Universidade de São Paulo. O livro está sendo publicado em colaboração com a Editora Nova Alexandria que, no ano passado, lançou uma versão em português do livro do primeiro presidente da República do Cazaquistão, Elbasy Nursultan Nazarbayev, A Era da Independência. 

No Cazaquistão, estão previstos vários eventos nos níveis internacional, republicano e regional, em particular, a realização de conferências científicas e práticas na cidade de Nur-Sultan, o lançamento do longa-metragem “Abai”, a publicação dos trabalhos de Abai em idiomas estrangeiros e outros eventos.

No ano passado, começou a corrida de revezamento de poesia, Abai Challenge, cujos participantes leram trechos das obras do grande poeta cazaque e publicaram no Youtube, Instagram e em outras redes sociais. A corrida de revezamento foi iniciada por uma estudante de nove anos, Lyailim-Shamshyrak, da cidade de Nur-Sultan, e apoiada pelo presidente do Cazaquistão, Kasym-Jomart Tokayev. Até o momento, representantes dos mais diversos setores da sociedade cazaque, círculos acadêmicos estrangeiros, mídia e muitos outros participaram do challenge. Depois de ler o livro, talvez o público brasileiro se inspire na sabedoria do poeta cazaque e participe dessa corrida de revezamento.

Celebrar o aniversário de Abai é outra oportunidade de compreender seu trabalho, suas lições. O que quer que Abai escreva, ele sempre se mostrou poeta-pensador, filósofo, iluminador, como um homem que ama e acredita em seu povo. A poesia de Abai ocupa um lugar muito importante na vida espiritual do povo cazaque, em sua literatura. Não é à toa que os poemas de Abai, canções compostas por ele, foram passados de boca em boca, de um para outro, se tornaram os mais amados entre as pessoas. As obras de Abai são atemporais e permanecem relevantes hoje, e, quanto mais a era do poeta se aprofunda na história, mais você percebe a necessidade de estudar sua herança multifacetada, que é um tesouro inestimável.
 
 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags