Opinião

Visão do Correio: O Brasil tem de se preparar para o coronavírus

No século 21, não só as comunicações são rápidas. Os meios de transporte também são. Graças a eles, uma epidemia de vírus pode atingir os cinco continentes em dias. É a ameaça que paira sobre o mundo depois da descoberta do coronavírus em Wuhan, na China. O número de mortos ultrapassa 80. Mais de uma dezena de países já tem cidadãos infectados nos próprios territórios. Contam-se mais de 2 mil contaminados, o maior número concentrado na Ásia, mas com registros nos Estados Unidos, Canadá e França.

O governo de Pequim tomou providências rigorosas. Isolou Wuhan e demais cidades da província de Huben, com cerca de 50 milhões de habitantes. Cancelou as comemorações do ano- novo, feriado longo que, tradicionalmente, se destina ao reencontro de familiares distantes. Proibiu excursões. Desautorizou a venda de animais em mercados. (Suspeita-se que o novo vírus tenha sido transmitido aos humanos em razão do consumo de carne de cobra ou morcego.)

Apesar das rígidas medidas, infectologistas afirmam serem insuficientes para conter a expansão do coronavírus pelos cinco continentes. Pequim mantém robustas relações comerciais com a maior parte do mundo, o que intensifica a ida e vinda de executivos e demais profissionais de empresas ou governo, além de estimular o turismo. A segunda potência do planeta, vale lembrar, é o maior parceiro comercial do Brasil.

O ministro da Saúde da China, Ma Xiawei, fez no domingo um alerta que acendeu a luz vermelha das autoridades mundiais: a transmissão da doença não se dá apenas de pessoas que apresentam os sintomas da infecção. Pessoas infectadas, mas sem sintomas, podem transmitir o mal. Cada uma faz duas ou três vítimas.

Como o período de incubação é de um a 14 dias, há o risco real de propagação célere do vírus. Mais: o prefeito de Wuhan confessou que 5 milhões de cidadãos deixaram a cidade antes do isolamento. No dia 23, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu não decretar, naquele momento, a situação de emergência internacional. Talvez o faça agora. Ontem, a OMS reconheceu o erro de avaliação e reforçou o alerta global.

Dificilmente o Brasil escapará da rota do vírus. Por isso, precisa se prevenir. O deficiente sistema público de saúde não dá conta de atender os pacientes que chegam em fluxo normal. Ali se conjuga o verbo faltar. Faltam leitos, profissionais, medicamentos, gestão. Daí por que se impõe um plano contra o coronavírus com articulação das autoridades federais, estaduais e municipais.

Em 1918, a gripe espanhola, pior epidemia da história, matou 50 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, ceifou a vida de 35 mil, somados adultos e crianças. Entre os mortos, estava o presidente Rodrigues Alves, eleito para o segundo mandato. À época, não havia antibióticos nem penicilina. A rede pública de saúde não existia. A situação agora é diferente. Precisa-se de planejamento para antecipar a chegada do coronavírus e evitar mortes evitáveis.