Correio Braziliense
postado em 28/01/2020 04:20
O presidente Jair Bolsonaro foi convidado de honra do primeiro-ministro Narendra Modi’s para visitar a Índia durante o Dia da República. O que se pode esperar quando o líder da maior nação Sul-Americana visita a maior nação Sul-Asiática? Os dois líderes firmaram múltiplos acordos, desde exportações agrícolas até cooperação em segurança cibernética e medicina. Houve discursos de amizade e sobre a necessidade de nações emergentes se aliarem para fortalecer seu poder de barganha.
Mas esperemos que os líderes tragam também ambições que de fato alcancem transformações duradouras. Por diversas vezes, tive o privilégio de visitar tanto a Índia quanto o Brasil, apoiando empresas globais em seus objetivos comerciais. E o que percebo são dois países com similaridades extraordinárias, que logram tornar-se parceiros indispensáveis no século 21.
Pode ser difícil valorizar as afinidades entre dois países quando as diferenças são tão predominantes. Um tem sua história datada de milhares de anos, enquanto o outro é uma nação bem mais jovem. Têm pouco em comum étnica ou religiosamente e, com exceção de Goa, não falam a mesma língua.
No entanto, essas diferenças mascaram enormes semelhanças. Ambos os países têm democracias vigorosas, onde partidos políticos se formam, se unem e se dividem em um caleidoscópio incessante. Trazem um protecionismo que inibe a competição internacional e tem indústrias estatais que dominam setores-chave. São ricos em recursos humanos e têm suas economias impulsionadas pela expansão da classe média, que clama por melhores serviços públicos, incluindo educação, saneamento básico e saúde.
E, mesmo assim, as trocas bilaterais são ínfimas. O comércio total chega a US$7 bilhões, pouco acima do que esteve em 2004, a última vez que um chefe de Estado brasileiro participou do Dia da República, quando totalizou US$1,5 bi. Enquanto isso, o comércio do Brasil com a China escalou de US$4 bilhões para mais de US$100 bilhões no mesmo período. Claramente, recursos estão sendo inutilizados no que diz respeito ao comércio Brasil-Índia.
Então, o que Bolsonaro e Modi podem fazer para ajudar suas respectivas economias e setor privado a atingirem seu potencial? O agronegócio apresenta a oportunidade mais evidente e imediata. Ciclos de cultivo complementares e mercados internos de tamanho considerável tornam os dois países parceiros ideais no setor. A empresa indiana Shree Renuka Sugars, por exemplo, está alavancando a moagem de açúcar durante todo o ano nos dois países visando tornar-se um dos maiores produtores mundiais de açúcar. Ademais, um dos principais objetivos do presidente Bolsonaro será impulsionar as exportações brasileiras de etanol. Em troca, o Brasil está preparado para ajudar os agricultores indianos a implementar um programa de etanol mais eficiente que reduz a dependência de subsídios e promove melhorias na qualidade do ar na Índia.
Além do etanol, as oportunidades em energias renováveis são abundantes. Apesar do ceticismo de ambos sobre os custos de combater as mudanças climáticas em países em desenvolvimento, Bolsonaro e Modi estabeleceram metas louváveis para expandir o uso da energia solar. Ambos podem se beneficiar de investimentos paralelos neste setor. Em veículos elétricos, por exemplo, Tata Marcopolo representa uma parceria promissora. A empresa brasileira fabricante de ônibus, Marcopolo, formou uma joint venture com a indiana Tata Motors, para oferecer ônibus e veículos ao mercado indiano.
Alterar políticas de comércio também pode gerar mais fôlego para a cooperação. Sob Bolsonaro, o Brasil está formando novas alianças, e essa transição, atrelada à saída da Índia da Parceria Econômica Compreensiva Regional da Ásia (RCEP), abre caminho para uma nova abordagem comercial. Regimes preferencias para mercadorias beneficiariam tanto as grandes multinacionais em São Paulo e em Mumbai como as empresas de pequeno e médio porte em Belo Horizonte, Curitiba, Hyderabad e Chandigarh.
Muitas dessas pequenas e médias empresas estão, inclusive, desenvolvendo soluções inovadoras em respostas às demandas da classe média de ambos os mercados. Essas empresas estão redefinindo o acesso, por exemplo, a serviços e produtos financeiros por meio do uso de pagamentos digitais, microsseguros, e on-line banking, beneficiando empreendedores e donos de micronegócios.
Quando Modi e Bolsonaro se encontraram no Dia da República, torcemos para que desenvolvessem uma relação comercial capaz de lançar mais projetos como Tata Marcopolo e apresentar uma gama mais variada de produtos aos mercados consumidores. É chegada a hora de os países se olharem no espelho e se reconhecerem um no outro, em benefício de ambas as nações.
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