Opinião

Artigo: O sopro da vida

Correio Braziliense
postado em 29/01/2020 04:06
“Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir.” Muitos de nós, na altura de nosso egocentrismo, não seguimos à risca as palavras da poetisa Cora Coralina. Gastamos tempo demais pensando no ter e abandonamos o ser. Traímos ideais e sonhos de uma vida suave e simples em troca de dinheiro e poder. Mas também não percebemos que o poder é efêmero, tênue e passageiro. Vivemos sem nos importar com o modo como seremos lembrados por nossos entes queridos, filhos, netos e bisnetos. No alto de nossa prepotência e arrogância, acreditamos que nossos dogmas são verdades absolutas e únicas, e desprezamos as crenças e as convicções alheias. Impomos rótulos a outros seres humanos e os espezinhamos por causa da orientação sexual, cor da pele, inclinação política ou ideologia de gênero.

Tantas vezes nos esquecemos de que, ainda que nos julguemos melhores do que o outro, no fim de tudo todos seremos igualados. A morte é a única certeza inexorável da vida. Após o último suspiro, dinheiro, opulência, ganância, nada disso mais importará. O túmulo é o destino comum a todos nós. Podemos até deixar herança, patrimônios e bens para nossos filhos, mas a nossa memória será o nosso maior tesouro. Talvez seja mais fácil viver e morrer na dignidade a abandonar o palco dessa vida sem deixar saudades. É mais fácil tratar o próximo com respeito e igualdade do que se acomodar sobre um trono que não existe e se sujeitar a uma queda inesquecível.

Precisamos perceber a finitude da vida. “Se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos; não percam o agora”, escreveu o poeta argentino Jorge Luis Borges, um ano a antes de morrer, aos 86 anos, em 1986. A vida é feita de instantes, e talvez o próximo segundo não mais exista para alguns de nós. A trágica morte de Kobe Bryant, lenda da NBA, nos ensina muito sobre a fragilidade da vida. Foi ela que me impulsionou a escrever estas linhas.

Confesso que pensei em divagar sobre a falsa perspectiva de paz no Oriente Médio, sobre a consolidação do Brexit (divórcio entre Reino Unido e União Europeia) ou sobre os desatinos de nossa política. Fiquei impactado com a partida de “Mamba” e de sua filha, de apenas 13 anos, quando o helicóptero que os levava a uma partida de basquete caiu na Califórnia, no último domingo. O acidente me fez pensar sobre tudo o que escrevi nas linhas anteriores. Que todos possamos, ao apagar das luzes, deixar uma boa impressão.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags