Correio Braziliense
postado em 01/02/2020 04:13
Uma batalha entre titãs
Entre as múltiplas consequências da corrupção, e talvez os mais deletérios são os efeitos nocivos que se prolongam por anos, causando mais estragos à medida que as Cortes não conseguem, em tempo hábil, pôr um ponto final nos processos, devido não apenas à morosidade da Justiça e à possibilidade infinita de medidas recursais, mas, sobretudo, em razão do poder econômico que, geralmente, tem indivíduos e empresas envolvidos nesses casos.
Essa é a realidade da maioria dos casos envolvendo grandes somas de dinheiro, normalmente provenientes dos cofres públicos, ou seja, recursos dos cidadãos. Todos os brasileiros vêm acompanhando com atenção as manobras para neutralizar a força-tarefa do Ministério Público de Curitiba, onde estão os volumosos processos da Operação Lava-Jato.
É preciso, além de processar, reaver a fábula de dinheiro subtraída dos cofres da União. Trata-se de uma luta hercúlea contra um exército dos mais caros advogados do país contra a oposição política e contra a velha ordem que sempre controlou o Brasil, como uma propriedade particular. É graças à luta desses pequenos e solitários Dom Quixotes que os moinhos da corrupção vêm sendo demolidos, para o gáudio da população que passou a enxergar nesses cavaleiros talvez a última esperança de reconstruir um país justo e igualitário.
Em Brasília, em decorrência direta da chamada maioridade política, empresários e políticos locais uniram esforços para copiar esse modelo criminoso que grassava pelo país, introduzindo, na capital, o fenômeno da corrupção em larga escala. Exemplo material dessa sanha pode ser visualizado nas duas maiores obras erguidas na cidade. O Estádio Nacional Mané Garrincha e o Centro Administrativo (Cetrad), em Taguatinga. O primeiro, orçado inicialmente em R$ 6,9 milhões, custaria aos contribuintes, quando concluso, R$ 1,9 bilhão, dos quais mais de R$ 600 milhões foram apontados como superfaturamento, pagamento de propina e outros desvios, sendo o mais caro estádio da Copa de 2014 e um dos mais caros do planeta. De quebra, deixou uma despesa mensal de R$ 2,2 milhões mensais somente na conta de água, fora outras despesas, como luz e conservação. Isso numa cidade sem tradição ou times de ponta no futebol.
Foi preciso implorar para que os empresários assumissem o comando do elefante branco de concreto armado. O mesmo se sucedeu com o Centrad que custou mais de R$ 1 bilhão dos contribuintes, cujo valor global da Parceria Público-Privada (PPP) foi estimado em R$ 6 bilhões, dividido em parcelas mensais de R$ 12,6 milhões ao longo de 22 anos.
Entregue em 2014, a obra mastodôntica está vazia e necessita de diversos ajustamentos ante a Justiça para ser entregue ao GDF. Na obra gigantesca, espalhada por 180 mil metros quadrados, o Ministério Público detectou o pagamento de propinas e outras vantagens indevidas a políticos, empresários e legendas partidárias locais tanto pela notória Odebrecht, quanto por meio da Via Engenharia.
Mesmo fechada, a obra produz custos mensais não informados ao contribuinte, o que deve perdurar, uma vez que ela está emaranhada em mais de 60 processos que correm na Justiça em diversas instâncias. Obviamente, os responsáveis diretos pelas duas obras esperam, com a ajuda da banca milionária de advogados e com a morosidade da Justiça, que esses crimes prescrevam e que a conta seja paga em sua integralidade pelos contribuintes da capital.
A frase que foi pronunciada
“A sociedade se divide em duas classes: os que têm mais refeições do que apetite e os que têm mais apetite do que refeições.”
Sébastien Roch Nicolas Chamfort foi um poeta, jornalista, humorista e moralista francês
Propriedade Intelectual
- Incubadoras de universidades têm feito trabalhos interessantes, mas nem sempre bem aproveitados. Em um país onde uma invenção leva 10 anos para receber patente, nota-se que o estímulo governamental é zero. Justamente o oposto ocorre em países desenvolvidos.
Registro
- É bom que fique registrado: apenas dois senadores tiveram 100% de presença no trabalho em 2019. Senador Reguffe, pelo DF, e senador Girão, do Ceará.
Licença-maternidade
- Houve ganho de causa em tribunal, onde a mãe de um recém- nascido que ficou internado em UTI precisou estender a licença pelo princípio do melhor interesse da criança.
História de Brasília
O embaixador da Coreia chegou a Brasília à noite, para apresentar credenciais no dia seguinte. Durante mais de meia hora, a DAC ficou chamando o funcionário do Itamarati encarregado da recepção, e não apareceu ninguém. (Publicado em 15/12/1961)
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.