Opinião

Visto, lido e ouvido

Correio Braziliense
postado em 06/02/2020 04:13
Pecados capitais ou do capitalismo pecador?

Hoje, mais do que em qualquer outro tempo ou lugar na história da humanidade, os vícios do que o cristianismo classifica como pecados capitais se tornaram comuns nas relações sociais, a tal ponto que passaram a compor, com naturalidade, o trato das pessoas no dia a dia. Esses vícios humanos são tão constantes que passaram a integrar a paisagem da contemporaneidade. Eles são tão comuns que não nos apercebemos de seus efeitos nefastos.

Curiosamente, a lista desses vícios apareceria justamente com o desenvolvimento da fase pré-capitalista, configurado no chamado capitalismo comercial. Por essa e por uma série de outras razões, é comum confundir e mesmo associar os pecados capitais com o capitalismo propriamente dito.

Para alguns autores da história econômica, os pecados capitais se inscrevem no próprio mecanismo desenvolvido pelo capitalismo, como uma espécie de subproduto do sistema. Se analisarmos quais seriam os efeitos colaterais da instalação, sem regras rígidas, do capitalismo tipo predador, veríamos que, nesse caso, o surgimento dos pecados capitais viria como uma condição sine qua non.

De uma maneira até sintomática, não se verifica em escola alguma, seja pública, seja particular, a educação de jovens que os alertem para os danos causados por esses vícios à sociedade e à vida em comum. Não se trata aqui de destacar o combate aos vícios como espécie de moral cristã rasa e sem sentido. O que importa nesse caso é a formação de jovens dentro dos princípios cristãos de sociabilidade, condição que se alcança, sobretudo, por meio da solidariedade e do respeito à dignidade das pessoas.

É importante alertar os jovens para os efeitos da gula, que se relaciona diretamente com a falta de amor-próprio. A cobiça com o egoísmo humano. Esse é um dos traços mais visíveis hoje na sociedade de consumo, com as pessoas desejando consumir e comendo além necessário e da temperança. Os shoppings representam uma espécie de catedral dedicada exclusivamente ao culto da gula e do consumo.

Obviamente, as legiões de jovens que passam parte da semana dentro de shoppings, na impossibilidade de consumir tudo o que ali se apresenta, acabam, na sequência, desenvolvendo um tipo de comportamento ligado ao segundo vício humano que é a avareza, ou seja, o apego descontrolado pelos bens materiais e pelo dinheiro. Nesse ponto, eles passam a ter uma relação de idolatria pelo poder das posses materiais e pela capacidade que esses bens têm para adquirir tudo nesse mundo, inclusive, aqueles que, normalmente não se comprariam com moedas como é o caso da amizade, da solidariedade e do amor.

Nesse mundo, sem freios morais de toda a espécie e sem decepções naturais à vista, as gerações, independentes da classe social que pertençam, passam a recorrer a um terceiro vício ou pecado capital representado pela luxúria ou pelo prazer sensual e material, deixando-se levar pelas paixões e pelos desregramentos carnais, experimentando de tudo em matéria da busca pelo prazer sexual.

Daí decorrem os abusos com sexos grupais, como em bailes funks, homossexuais, com animais, ou mesmo a abstinência total de sexo, motivado por padrões anormais e opostos a esse tipo de comportamento. Na impossibilidade de conquistar todo o mundo de uma braçada só, esses seres humanos da modernidade desenvolvem ainda o que seria um quarto vício ou comportamento negativo representado pela ira, ou o sentimento de ódio a tudo e a todos, resultando em brigas de gangues, espancamentos de pessoas diferentes, mortes por motivos torpes, feminicídios, ligação a grupos extremistas e outros comportamentos destrutivos.

Com esse desejo exacerbado por tudo conquistar, dentro do que ensina e induz o capitalismo inumano, muitos jovens e até adultos passam a desenvolver o sentimento de um quinto vício, caracterizado pela inveja. Nesse ponto, a pessoa despreza as próprias conquistas, passando a compará-las com outras mais exitosas, mesmo que não reflitam a realidade.

A preguiça, como sexto pecado ou vício capital, vem na sequência do que chamamos vida moderna e pode ser vista na inaptidão dos jovens para enfrentar as tarefas da vida diária. São aqueles indivíduos que não trabalham nem estudam, conhecidos popularmente como nem-nem.

Por fim, dentro do novo modo de encarar um mundo, onde tudo parece ter um valor quantitativo, as novas gerações passam a desenvolver o que seria o sétimo pecado capital, representado pela soberba ou vaidade, que faz com que esses novos cidadãos adquiram um sentimento de falsa superioridade em relação aos demais, sejam de outras classes sociais, seja de outra cor, seja outra origem, seja de outras idades. De posse desse vício, as novas gerações passam a não respeitar as leis vigentes, as experiências de pessoas mais velhas, os professores, a família e a todos aqueles que se interponham em seu caminho.

De uma forma até cruel, é possível verificar que os sete vícios capitais atingem não só os jovenss, mas a população em geral, e decorrem das relações desequilibradas e desiguais entre os cidadãos e o Estado ou entre consumidores e fornecedores, numa economia de mercado sem leis e com poucas proteções.

Exemplos abundantes ao longo da história da humanidade, mostram, de forma clara, que nenhuma sociedade, minimamente civilizada, logrou se desenvolver de modo satisfatório e longevo, apresentando  esses vícios ou pecados capitais e por uma razão simples: toda e qualquer sociedade é baseada, desde sempre, nas relações humanas.


A frase que foi pronunciada

“Você não conseguirá pensar decentemente se não quiser ferir-se a si próprio.”

Wittgenstein, filósofo austríaco, naturalizado britânico. 


História de Brasília
E completam a acusação, com a denúncia de que o contrato exige 70 mudas por metro quadrado, e a média de plantio está sendo de 25. (Publicado em 15/12/1961)



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