Correio Braziliense
postado em 07/02/2020 04:06
Os recentes dados negativos relativos à economia mostram que o governo e o Congresso não podem mais adiar os debates e a aprovação das reformas fundamentais para a volta de um ciclo econômico robusto, como ocorria antes da recessão de 2015 e 2016, que levou o país à beira do abismo. A queda da atividade industrial, depois de dois anos de recuperação (avanço de 1% em 2018, e de 2,5% em 2017), é o sinal de que as mudanças no complexo sistema tributário e na máquina administrativa não podem mais esperar. Cabe ao Palácio do Planalto encaminhar as propostas de reforma nos dois setores, e ao parlamento discutir e aprovar o que for necessário para a retomada da confiança dos investidores e, consequentemente, do crescimento econômico.
O alerta vem do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao aferir que a indústria brasileira fechou o ano passado com queda de 1,1%, pior resultado desde 2016, quando o recuo do setor foi de 6,4%. O índice foi influenciado pelo baque na extração de minério de ferro depois da tragédia provocada pelo rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que deixou 259 mortos e 11 desaparecidos. De acordo com o IBGE, a produção industrial foi bastante impactada pela redução de 9,7% da indústria extrativa, que engloba o setor mineral. No cálculo de especialistas, se a área extrativa fosse retirada do cálculo do instituto, as fábricas teriam registrado expansão de 0,2% em 2019.
Outro fator responsável pelo desempenho negativo das plantas industriais foi a crise na Argentina, que impactou, diretamente, as exportações do Brasil, principalmente de veículos automotores e produtos da linha branca. A questão é que diversos segmentos sofreram quedas significativas, sobretudo os identificados com bens intermediários, que servem de insumos a outras áreas. Das 26 atividades observadas, o levantamento do IBGE detectou 16 de destaque no vermelho, como metalurgia (-2,9%), celulose e papel (-3,9%) e reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-9,1%).
Economistas avaliam que sem estímulos como a reforma tributária, dificilmente a produção industrial retomará o ritmo desejado. Lembram que o resultado só não foi pior por causa da liberação de mais de R$ 40 bilhões do FGTS, que contribuiu para o aumento do consumo, principalmente da linha branca, como geladeiras e fogões. As vendas de bens duráveis, como móveis e eletrodomésticos, também se beneficiaram da injeção de recursos do FGTS na economia e subiram 2%, o mesmo acontecendo com os não duráveis, como alimentos, com elevação de 0,9%.
Que o desempenho negativo da indústria nacional no ano passado sirva de alerta para que haja o comprometimento dos governantes e dos legisladores para a aprovação das complicadas reformas tributária e administrativa, ainda em 2020. Principalmente por causa do ano eleitoral e de incertezas globais causadas pelo coronavírus e seus impactos na economia chinesa, a segunda maior do mundo e principal parceira comercial do Brasil.
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